Conferência internacional “Fé na Igualdade: Pessoas
LGBTI, Religião e Espiritualidade”
17 de Maio de 2017
Fotografia de Pedro Loureiro
A 17 de maio
celebra-se o Dia (Inter)Nacional de Luta contra a Homofobia, Bifobia e
Transfobia. Em 2017, foi a segunda vez que foi assinalado enquanto dia nacional
em Portugal e desta vez aconteceu de uma forma muito mais pública, com hastear
de bandeiras arco-íris na Câmara Municipal de Lisboa e Junta de Freguesia da
Misericórdia (também em Lisboa), com a inauguração de uma faixa comemorativa na
fachada do edifício da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e que
por lá ficará até ao final do mês de junho, mas também com uma multiplicidade
de eventos físicos e iniciativas digitais um pouco por todo o país. O 17 de maio
é uma data especial porque relembra o dia em que a Organização Mundial de
Saúde, em 1990, retirou a homossexualidade da lista de patologias. E porquê
relembrar? Porque há muitos países e muitas áreas na nossa sociedade (também em
Portugal) que continuam a categorizar as pessoas lésbicas, gays, bissexuais,
trans e/ou intersexo (LGBTI) como pessoas doentes, pessoas criminosas ou
pessoas pecadoras e que, portanto, reforçam estereótipos e preconceitos,
contribuindo assim para a discriminação e violência contra as pessoas LGBTI.
É pela importância e
visibilidade deste dia que, desde 2013, a Associação ILGA Portugal apresenta
todos os anos os resultados do Observatório da Discriminação em função da orientação sexual
e/ou identidade de género. Em 2016, o Observatório recebeu 179 denúncias anónimas
de incidentes discriminatórios, destas 92 configuram crimes de ódio segundo a
Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o que não significa
que seja este o entendimento do Código Penal Português. A maioria dos casos, e
à semelhança de anos anteriores, tratam-se de insultos e ameaças verbais que
acontecem regularmente em espaço público (na rua). As vítimas, na sua maioria,
têm entre 18 e 24 anos, identificam-se como homens gay e reportam que a
situação denunciada teve bastante impacto psicológico nas suas vidas.
Interessante é perceber que pela primeira vez, temos um grande número de
situações reportadas em que as testemunhas intervieram e apoiaram a(s)
vítima(s) e é também positivo realçar que, e pelo segundo ano consecutivo,
houve um aumento do número de denúncias para as autoridades. Estes dados
espelham bem que a discriminação ainda existe e está bastante presente no
dia-a-dia das pessoas LGBTI em Portugal, mas que as pessoas cada vez mais
reconhecem a homofobia, a bifobia e a transfobia e atuam perante situações a
que assistem ou de que foram vítimas.
Com a consciência de que há muito trabalho ainda a
fazer e em muitas áreas, a ILGA Portugal organizou no dia 17 a conferência
internacional “Fé na Igualdade: Pessoas LGBTI, Religião e Espiritualidade” com
representantes da diversas religiões: Krzysztof
Charamsa, padre ex-funcionário do Vaticano, Wajahat Abbass Kazmi, ativista
muçulmano e fundador da campanha “Allah Loves Equality”, Mark Barwick,
coordenador do projeto europeu Building Communities of Trust, Maria Eduarda
Titosse, Pastora na Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, e João Cláudio
Maria, ex-maestro do coro de São Domingos de Castanheira de Pera. A religião
não pode ser um tabu para a sociedade e para as pessoas LGBTI, portanto este é
um primeiro passo para se falar abertamente sobre fé, crenças e de que modo é
que as pessoas LGBTI podem praticar a sua fé livremente, sem receio de
discriminação e sem exclusão da participação na vida pública.
Publicado na página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Maio de 2017
Publicado na página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Maio de 2017