quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Destaque do Mês de Fevereiro de 2013

Alison Neilson



Alison Neilson Laurie, nasceu no Canadá a 7 de Fevereiro de 1965, é pós-doutorada pelo Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e responsável pelo projecto EDUMAR - Perspetivas Sobre o Mar e a Vida Marinha, Cetáceos e Turismo nos Açores e Terra Nova. Tem trabalhado com as comunidades locais de pescadores nos Açores para perceber como as pessoas interpretam o mar e como este conhecimento é valorizado e utilizado em educação, política e sustentabilidade. É coordenadora do RCE Açores (Centro Regional de Peritos em Desenvolvimento Sustentável nos Açores, no programa da Nações Unidas para a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável).
Chegou aos Açores em Janeiro de 2008 depois de obter uma bolsa de pós-doutoramento para fazer trabalho de investigação em educação ambiental, com a Dra. Rosalina Gabriel da Universidade dos Açores em Angra do Heroísmo.
Admite que não sabia a localização correcta dos Açores, até se mudar para cá. “É especialmente embaraçoso porque mais tarde vim a descobrir que muito/as do/as emigrantes que residiam em Toronto eram açoriano/as.

O que mais gosta nos Açores?
“Gosto do facto das ilhas serem pequenas, assim é possível conhecer muitas pessoas tanto a nível profissional como social. Quando conheço uma pessoa, esta acaba por conhecer outra que eu também conheço, acabando por me querer apresentar a novas pessoas. Por exemplo, quando estive no Pico há uns anos atrás, andei por uma parte da ilha à boleia e enquanto falava com um casal sobre o meu trabalho, estes indicaram-me o contacto de uma senhora que conheciam na Universidade dos Açores em São Miguel que tinha feito um trabalho semelhante ao meu, sugerindo que eu entrasse em contato com ela. Curiosamente, eu já tinha conhecido o marido dessa pessoa, também ele investigador. Conhecemo-nos em várias ocasiões nas ilhas Terceira e Faial. Para mim é um prazer conhecer pessoas de todas as ilhas.”

O que menos gosta nos Açores?
“Às vezes torna-se muito silencioso para mim. Eu adoro jantar fora e assistir a eventos culturais. Durante o Verão existe movimento nas ruas à noite, mas durante o Outono e o Inverno são poucas as pessoas que saem de casa.”

Como foi a sua adaptação. Quais as maiores dificuldades?
“A língua, claro, foi um dos principais obstáculos. A maior dificuldade é que muito/as açoriano/as, especialmente na universidade, falam muito bem inglês. Isso permitiu sentir-me confortável nas mais variadas situações, mas também fez com que abrandasse a minha aprendizagem do português não permitindo que aperfeiçoasse a língua. Trabalhar com comunidades onde poucas pessoas falam inglês, é desafiante, mas serviu para improvisar as minhas competências linguísticas. Contudo, a língua em si, não é o único meio de comunicação e isso é uma das principais razões pelas quais eu tenho tido sucesso no meu trabalho junto das comunidades de pescadores em particular. A minha habilidade em escutar, ver e estar com as pessoas, promove o seu respeito e a sua compreensão.”

Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão ou noutra actividade que desempenhe, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
“Tenho tido muita sorte e o facto de ser mulher não tem enfraquecido a credibilidade do meu trabalho. De diferentes formas acabo por atingir os meus objectivos pois tenho um doutoramento, falo inglês e sou relativamente bem paga comparando com o/as outro/as habitantes da ilha.
Não acredito que nenhuma das condições acima descritas me tornem melhor que as outras pessoas, mas permitem que me salve do sexismo individual e da discriminação estrutural que pode afectar outras mulheres.”

Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
“Raramente senti discriminação por ser mulher. Contudo, estou ciente que à volta do mundo as universidades têm falhado no modo como fornecem as mesmas oportunidades para as mulheres se destacarem como professoras, investigadoras e administradoras.
Mesmo existindo muitos programas que encorajam as mulheres, independentemente do país em que vivemos, as mulheres em todo o mundo recebem, em média, 78% daquilo que os homens ganham.
Este facto não é tão pronunciado como a diferença de salário e de respeito entre homens e mulheres em outros sectores, como a pesca, mas eu acredito que qualquer diferença em qualquer sector é ridícula em 2013.
Infelizmente, a diferença existente entre os sexos em termos de remuneração e condições em todos os sectores só vai piorar com a crise económica actual, a mulher será o primeira a ser demitida como provavelmente será a última a ser contratada e quaisquer medidas que se implementem com o intuito de melhorar as desigualdades salariais vão fazer com que se acabe com os salários sendo estes congeladas e reduzidos.”

Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser imigrante?
“Não, nunca fui descriminada por ser imigrante, mas penso que isso estará relacionado com a minha cor de pele, a minha formação e a minha língua. “

Como acha que são vistas as mulheres imigrantes pela sociedade açoriana?
“Eu acho que não seria justo para mim, descrever como é que a sociedade açoriana vê as mulheres imigrantes, especialmente porque a minha experiencia é diferente das outras imigrantes que não trabalham.”

Gostava de exercer outra profissão?
“Estou muito contente com a minha profissão, pois esta permite-me diversificar. Desde que trabalho na área da educação é habitual ensinar e liderar todos os tipos de workshops que possam existir. A investigação permite-me viajar por todas as ilhas, bem como questionar qualquer tipo de dúvida em diferentes alturas. O meu trabalho está sempre aberto a mudanças, enquanto investigo acabo por ser obrigada a adquirir novas competências e a fazer coisas diferentes, por isso não tenho necessidade de mudar pois a minha profissão já inclui oportunidades de mudança.”

Quais são os seus objectivos (pessoais / profissionais) a curto prazo?
“Tenho escrito alguns artigos baseados na minha investigação, mas ao mesmo tempo tenho trabalhado num livro que se foca em entrevistas realizadas nos Açores com o objectivo de compreender o mar. Este livro será nas duas línguas, inglês e português e pretende ser do interesse dos habitantes das ilhas, bem como de investigadores de outras universidades.
Espero convidar várias pessoas a contribuir para o livro, bem como as que foram envolvidas nesta investigação, pois os conteúdos das entrevistas têm implicações para a educação, política, e a biodiversidade, entre outras coisas.
Também espero encontrar outras formas para que todo este trabalho ajude a servir as comunidades dos pescadores em particular, levando-me assim a promover pesquisas e projetos de extensão comunitária.”

Em que outros projectos está envolvida actualmente?
“Além do trabalho de pesquisa, foram envolvidos voluntário/as na criação e coordenação de uma rede informal para a educação e para o desenvolvimento sustentável. Desde 2009 que o RCE Açores foi reconhecido pela Universidade das Nações Unidas como um Centro Regional de Especialização de Educação para o Desenvolvimento Sustentável e envolve várias organizações na ilha Terceira e outras ilhas.
Um dos principais objectivos é apoiar a educação transformadora, o que significa dois sentidos de aprendizagem entre idosos e jovens, professor e aluno e aprender com as formas tradicionais, bem como aprender a partir de várias perspectivas, tais como as mulheres, cujas vozes não podem ser sempre honradas em algumas situações.
Nós fomos mais activos em 2010, ano da biodiversidade, mas, desde então, diminuiu a ajuda de estagiários voluntários do programa Leonardo da U.E.. Actualmente temos dois estagiários do Reino Unido, Maio Xanthe e Crump Liz que estão na Terceira desde Dezembro de 2011 e, entre outras coisas, vão de porta em porta a realizar entrevistas com o objectivo de perceber o que é importante para os moradores, fazendo com que estes tenham conhecimento das actividades do RCE. Tanto Xanthe como Liz falam português e todos juntos pretendemos dar apoio a um suporte de aprendizagem sobre sustentabilidade aqui nas ilhas. Actualmente, há uma RCE Açores no facebook com uma versão online de pesquisa.”

Miguel Pinheiro e Sara Ataíde
  
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 27 de Fevereiro de 2013 
 

UMAR Açores assinalou Dia de São Valentim

A 14 de Fevereiro



No âmbito do plano de actividade da associação para o ano de 2013 e a convite das Escolas, Básica Integrada de Angra do Heroísmo e Secundária Vitorino Nemésio na Praia da Vitória, a equipa técnica da UMAR Açores realizou um conjunto de acções de prevenção da violência no namoro, no passado dia 14 de Fevereiro, dia de São Valentim. As sessões tiveram como público-alvo o 3º ciclo da escola de Angra do Heroísmo e uma turma do 11º ano na secundária da Praia da Vitória, tendo participado cerca de três centenas de alunos/as.

Foram abordadas questões como os mitos que mantém os/as jovens em relacionamentos abusivos, os factores de risco para a violência, assim como algumas campanhas desenvolvidas com o objectivo de alertar a população para esta problemática. Verifica-se que o ciúme ainda é muitas vezes confundido com manifestações de amor por parte dos/as jovens, que não vêem nele um sinal de falta de confiança e necessidade de controlo por parte do/a namorado/a. Este muitas vezes evolui para o completo isolamento da outra pessoa, que deixa de estar com amigo/as e familiares para se cingir à pessoa com quem tem um relacionamento íntimo. Não menos comum é a ocorrência de agressões físicas, associadas à violência verbal e psicológica.

Uma vez que se pretende que os relacionamentos sejam saudáveis e positivos, esta sessão teve como objectivo a prevenção de situações de violência no namoro, consciencializando os/as jovens presentes para os sinais de alerta de um relacionamento abusivo e finalizando com as características que devem prevalecer num namoro equilibrado.

Este trabalho é realizado pela associação ao longo de todo o ano lectivo, mas nesta data teve particular interesse tendo em conta o dia que foi assinalado.
 
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 27 de Fevereiro de 2013