sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Destaque do Mês de Setembro de 2012


Rosa Silva, a terceirense das rimas
 

Natural da freguesia da Serreta, Rosa Maria Correia da Silva, conhecida por Azoriana, a terceirense das rimas, tem 48 anos e é assistente técnica de estatística na Secretaria Regional da Saúde. A sua grande paixão é a poesia que aliou à blogosfera, sendo responsável pelos espaços www.azoriana.blogs.sapo.pt e www.silvarosamaria.blogs.sapo.pt
A 2 de Abril de 2011 publicou o seu primeiro livro, intitulado Serreta na Intimidade, onde se podem ler vários poemas da autora.
 
 
“Dizem que sou poeta e passei a acreditar que sim.”

 
Como começou e o que a motivou a escrever poesia?
Após ter conhecimento da blogosfera, o ter assunto para escrever assiduamente e a descoberta de rimar e tornar-se repentista. Dizem que sou poeta e passei a acreditar que sim.
Já cantou ao desafio. Tendo em conta que é uma atividade associada maioritariamente ao masculino como foi a sua integração?
A integração foi fácil porque foi o masculino que me convidou e me aceitou bem. As dificuldades prendem-se com algum desconhecimento desta minha vertente e o facto de não ser convidada para eventos em palco, uma vez que a maior parte das cantorias são feitas em bares ou em convívio de amigos. Propriamente em palco foram poucas vezes que atuei.
Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão ou noutra atividade que desempenhe, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
A mulher nem sempre tem a mesma aceitação que o homem talvez por ainda viver num meio pequeno, como é o das ilhas. Aos poucos, vai se integrando em tarefas que até há bem pouco eram exclusivas dos homens. Não sei bem da conversa de “bastidores” mas, pela frente, acho que tenho credibilidade pelo facto de desempenhar com convicção o que quer que me seja pedido, seja tarefa feminina seja do tipo masculina. Desde pequena que fazia parte integrante de tarefas domésticas onde prevalecia o masculino: malhar com mangual o feijão, tremoço, favas; ir à frente da vaca para fazer o rego para as sementeiras, etc.
Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Sim. É preciso fazer valer os direitos e deveres das mulheres, sobretudo das mais frágeis.
Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Eu vejo-as com necessidade de muito apoio para se libertarem de um modo de vida que não é benéfico para ninguém. Eu própria já passei por isso e, graças à UMAR consegui libertar-me de um mau modo de vida.
Gosta de ser mulher?
Gosto porque fui esposa, mãe e não há nada melhor que ver o fruto de uma união… Mas tenho pena de não ter vivido as bodas de prata de um casamento que quisera para sempre e que não o foi… Tenho pena de ter descoberto o Amor fora de um tempo que queria tê-lo. Nunca é tarde para amar e muitas vezes é graças à UMAR que eleva o ser MULHER. Nunca desistam de ajudar a Mulher frágil pela violência que acontece porque o mundo está a padecer de valores.

 
CANTINHO DO CÉU

Nasci num cantinho do céu!
Por entre beijos das flores e acenos dos passarinhos.
Cresceu em mim uma vontade de voar
Quis saber se no mundo tudo era igual ao meu cantinho
Mas nem sempre a resposta era uníssona.

Fui para outros lugares
Até naveguei pelos mares
E experimentei a sensação dos pássaros
Estive perto das nuvens
E foi aí que me apercebi que o pontinho onde eu nasci
Perdia-se na imensidão global.

Então para saberem que ele existe,
Por vezes sob um tecto de nevoeiro
Mas com a Luz de uma Mãe com séculos de Amor,
Comecei a falar dele à luz do meu conhecimento.
De repente, percebo que, afinal, este cantinho,
Da minha infância e juventude,
Se avista mais longe do que eu imaginava
E está presente em mim
Faz parte de mim
Mesmo estando ausente dele,
E atraiu o encanto do mundo.

Agora posso dizer:
Nasci no cantinho do céu,
Na pequena serra, Serreta.

Rosa Silva, Azoriana
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Setembro de 2012

O apoio psicológico à mulher vítima de violência doméstica


Quando nos chega uma mulher que está num relacionamento onde sofre violência conjugal, verificamos que esta na maior parte das vezes se encontra debilitada psicologicamente. E porquê? Porque as circunstâncias em que vive potenciam o desenvolvimento de instabilidade emocional e daí por vezes surjam sintomas de ansiedade, depressão e mesmo stress pós-traumático.  

Estar num relacionamento em que o companheiro é ciumento, controlador, possessivo, agressivo, leva a que um sentimento de insegurança e medo se instale, condicionando toda a vida da pessoa. Ser humilhada, insultada, ameaçada e desvalorizada constantemente, faz com que a auto-estima sofra danos muito difíceis de reparar.

É preciso em primeiro lugar ouvir esta sobrevivente que se encontra face a face connosco depois de ter dado o difícil passo que é reconhecer o problema e procurar ajuda. E compreender aquilo por que passou. Não é necessário para tal ter vivido as mesmas circunstâncias, mas sim tentar pôr-se no lugar da pessoa e perceber que os seus sentimentos são legítimos, e mais do que mostrar simpatia, é essencial criar empatia. Aí se fundamenta a aliança terapêutica, através da qual será desenvolvido o processo de recuperação da estabilidade psicológica e emocional.

Em segundo lugar deve ser devolvida voz activa à mulher que se nos apresenta. Damos a conhecer os vários recursos existentes, exploramos as várias hipóteses de acção, mas a última palavra cabe sempre a ela. Deve reconhecer que é capaz de tomar decisões sobre a sua vida, quando muitas vezes isso lhe foi privado. O conhecimento dos seus direitos e do seu valor enquanto pessoa potencia o empoderamento da mulher, levando a que esta admita que não se deve deixar maltratar, pois quem gosta não faz sofrer: “quanto mais me bates, menos gosto de ti”. 

É impossível viver uma situação de violência doméstica e não sofrer qualquer impacto com isso. A pessoa pode é ser mais ou menos afectada, dependendo de inúmeros factores: as características e duração do relacionamento abusivo, as próprias características de personalidade da vítima, uma vez que esta pode ser mais resiliente e ter recursos individuais para lidar com as adversidades, assim como o facto de ter uma boa rede social de suporte, o que também constitui um factor protector.

Muitas vezes a mulher não reconhece mas sente uma grande dependência emocional, dificuldade em imaginar e mesmo em concretizar uma vida autónoma e porque não dizer, sozinha. A ideia de “cara metade” e “alma gémea”, dá a entender que uma pessoa só está incompleta, o que não corresponde de todo à verdade. A pessoa, mesmo sem parceiro/a é capaz de viver a sua vida e desenvolver todo o seu potencial e mesmo ser feliz, porque não? A sabedoria popular dá alguns conselhos duvidosos: “entre marido e mulher não metas a colher”, mas também os dá muito acertados “antes só que mal acompanhado/a”!
 
Rita Ferreira
Psicóloga UMAR Açores / CIPA
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Setembro de 2012
 
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Destaque do Mês de Agosto de 2012

 
JOANA PINHEIRO
 

Xénia Leonardo (*)

A UMAR Açores/CIPA, conversou com uma mulher que se destaca na vida quotidiana da maior parte dos cidadãos. Se alguma vez comprou ou vendeu uma casa ou herdou algum bem, pode ter estado na presença desta profissional. Estamos a falar da Srª Notária do concelho da Praia da Vitória, a Drª Joana Maria Martins Pinheiro.
Esta jovem de trinta e quatro anos de idade, concedeu-nos o privilégio de falar de si, enquanto mulher e enquanto profissional do notariado e de nos responder a algumas perguntas.

Como lhe surgiu a ideia de ir para esta profissão?
A ideia foi surgindo com o evoluir da minha vida profissional: primeiro quis ser Advogada (sou da opinião que, antes dos 18 anos, ninguém tem maturidade e informação suficiente para saber o que quer ser “quando for grande”, mas, como muita gente, eu achava que os Advogados e Advogadas das séries americanas eram um espectáculo!!!); depois, já durante o curso de Direito, sonhei em ser Juiz; no entanto, enquanto exercia a Advocacia, trabalhava maioritariamente na área dos Registo e Notariado, e, quando se deu a Privatização do Notariado e surgiu a hipótese de me tornar Notária, não hesitei!

Fale um pouco de todo o trabalho que desenvolve enquanto notária.
Enquanto notária, e no princípio da liberdade contratual, analiso as pretensões das pessoas, aconselho-as juridicamente e concretizo em actos e contratos as suas vontades, o que, normalmente, se traduz em Procurações, Testamentos e variadas Escrituras, como Compras e Vendas, Mútuos, Hipotecas, Partilhas, Contratos Promessa, Arrendamentos, etc. O Cartório presta também assessoria na resolução dos mais variados tipos de situações, obtenção de documentação, registos automóveis, prediais e comerciais, etc. Aquando da concretização dos actos asseguro-me de que o que está a ser feito corresponde efectivamente à vontade de todos os interessados, e que todos estão devidamente esclarecidos, capazes de decidir livremente e conscientes das consequências legais do acto.

Houve algum motivo especial que a levou a escolher o concelho da Praia da vitória para exercer as suas funções?
Foram várias as circunstâncias que me levaram a optar por concorrer, em primeiro lugar, ao Cartório Notarial da Praia da Vitória: em primeiro lugar, queria fixar-me profissionalmente num lugar diferente de onde estava (Lisboa); em segundo lugar, já conhecia a Ilha Terceira há uns anos e desde que cá vim pela primeira vez nasceu em mim uma vontade enorme de cá voltar sempre que podia; por último, tomei conhecimento de que a Licença para instalação do cartório privado da Praia da Vitória estava a concurso, e não pensei duas vezes!

Alguma vez se sentiu discriminada por ser mulher e exercer esse cargo?
Senti, por vezes, alguma perplexidade quanto à minha idade (comecei a exercer a profissão com 27 anos), mas nunca senti qualquer “resistência” pelo facto de ser Mulher.
Antes de mim já muitas Mulheres exerceram esta profissão, pelo que não sou, propriamente, uma “novidade”.
Pelo contrário, tenho sido muito acarinhada e elogiada por todos os clientes que me procuram, que vêm os seus problemas resolvidos, com profissionalismo e celeridade aliados a simpatia e vontade de ajudar.

E relativamente a outros tipos de discriminação, que afectam a mulher, alguma vez os sentiu?
Felizmente não, pois não sei se me conseguiria conter…
Talvez por sorte que desde que nasci tenho andando em ambientes (família, vizinhos, amigos, escolas, passatempos, desportos, etc) nos quais a “verdade absoluta” é que somos todos iguais; quer em relação ao género, à cor da pele, à profissão, às opções religiosas, à situação económica, etc; é claro que há sempre alguém com uns “ideais” um pouco diferentes, mas não são mais do que uma pequena minoria, e que, por fraca argumentação, ainda dão mais clarividência à lógica da igualdade.
Nunca senti qualquer discriminação, mas talvez já tenha ouvido algum comentário discriminatório; se tal aconteceu nem me lembro, pois, por não lhe encontrar qualquer validade, terá passado para a parte “dispensável” da minha memória!

No concerne à violência doméstica / no namoro, como acha que as pessoas de uma forma geral encaram esta problemática?
Bem, quanto à igualdade entre géneros, e embora as mentalidades estejam a mudar, ainda há muita divergência de opinião.
No entanto penso que a opinião grandemente maioritária é contra a violência doméstica / no namoro, seja qual for o género agressor (também existem bastantes casos de homens violentados, mas estes ainda são menos expostos).
Na minha opinião uma pessoa “agressora” não o é por acreditar que o possa ser, que a sociedade o permite, ou que assim é que se devem resolver as coisas; é-o por padecer de capacidade mental que permita a resolução de problemas com calma e maturidade; é-o por não ter noção do limite dos seus direitos e liberdades; e na minha opinião, uma pessoa violenta e normalmente agressora está muito aquém do desenvolvimento social exigível nos nossos tempos.

Considera que existe uma sensibilização correcta e suficiente na sociedade, para este tipo de problemáticas?
Penso que as duas problemáticas aqui em questão (igualdade entre géneros e violência doméstica) são bastantes diferentes, embora sempre algo relacionadas.
Tenho forte convicção na igualdade entre géneros, pelo acho que existe na sociedade uma sensibilização correcta e suficiente. Mas demora o seu tempo, talvez algumas gerações, a chegar a toda a gente. Se, hoje em dia, ainda existem gerações novas com crenças de que a mulher tem de ter um certo tipo de tarefas, obrigações e muitas limitações na sua vida social e afectiva, estas crenças, ainda que cada vez com menos força, estão a ser transmitidas a jovens.
Quanto à violência (que inclui sempre agressões físicas e psicológicas), o problema não será resolvido, para as pessoas que a sofrem, por sensibilização. Quem não tem coragem para enfrentar uma eventual agressão, talvez nunca a venha a ter. O que é importante é que as pessoas sejam habituadas a acreditar, quase desde que nascem, que nunca deverão deixar-se agredir, seja esta agressão física ou psicológica. Se acreditaram a sério nisto, nem darão hipótese a uma primeira agressão. E estarão a salvo, em princípio, para sempre!!!

Como acha que as mulheres se encontram actualmente na sociedade? E como esta mesma sociedade as encara?
Acho que estão em forte “expansão”! Cada vez mais se vêem mulheres de sucesso e independentes sem que, para isso, tenham deixado de serem “mães” ou “mulheres de família”.
Além de as mulheres serem já tão independentes, estão cada vez mais a ocupar cargos públicos, políticos ou de grande responsabilidade, demonstrando que, em nada, somos inferiores. Desempenhamos toda e qualquer função com a mesma capacidade e destreza que os homens. Nem há qualquer razão biológica para que assim não seja, ou há???
E acho que a sociedade tem encarado com naturalidade esta evolução!

O que pensa do Movimento Feminista?
Tem sido útil, pois para tudo é preciso uma frente forte. Se não tivessem existido mulheres capazes de ir à luta, mesmo que isso lhes custasse a vida, talvez a nossa realidade actual não fosse tão óbvia…
É claro que em tudo temos de ter cuidado com extremismos, pois nunca se poderá chegar ao ponto de defender a “superioridade” das mulheres ou a “desnecessidade” dos homens. Somos todos iguais, e temos todos de assim ser tratados! Somos todos importantes!  

Na sua opinião, julga que as mulheres têm lutado para defender os seus direitos e combater as desigualdades? Ou ainda há muito mais para fazer? O quê? E os homens, qual tem sido o seu papel nesta luta para equilibrar o papel do homem e da mulher na sociedade?
As mulheres têm lutado neste sentido. E os homens também já o fazem! Trata-se de mentalizar a sociedade no geral, os dois géneros. Tanto há homens como mulheres que não acreditam na igualdade! E é esta parte da sociedade que tem de evoluir para o estádio seguinte!

Que mensagem gostaria de deixar à pessoas acerca da violência doméstica / no namoro e sobre a igualdade (ou desigualdade) de género, uma vez que esta última problemática está directamente ligada à violência doméstica?
Todas as vidas têm igual valor!
Todos os seres humanos têm direito à liberdade, à opinião, e, principalmente, à sua integridade física e psicológica!
Todos temos opiniões e todas são igualmente válidas!
 
(*) Jurista da UMAR Açores/ CIPA
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 29 de Agosto de 2012
 
 

Destaque do Mês de Julho de 2012

SARA SILVEIRA 
 

Sara Lima Silveira tem 34 anos e é licenciada em engenharia e gestão do ambiente com especialização em gestão e conservação da natureza. Possui mestrado em engenharia do ambiente e é, desde 2009, técnica superior na Secretaria Regional do Ambiente e Mar e presidente da direcção AMPA - IT Associação de mulheres de pescadores e armadores da ilha Terceira desde 1 de Junho de 2011.

O que a motivou a fazer parte da AMPA - IT?
O facto da associação ter passado por uma fase menos boa e de ter estado em perigo de ser encerrada, levou a que houvesse necessidade de eleger para os seus corpos constituintes pessoas com vontade e conhecimentos suficientes para reerguer a associação e realizar um trabalho que permitisse o lançamento e continuidade do projecto Pesca-Turismo e de outras formações que possam dar conhecimentos e ferramentas úteis de trabalho à comunidade onde está inserida. Pessoalmente o que me motivou a encabeçar esta lista como Presidente da Direcção da AMPA-IT foi uma grande vontade de fazer alguma diferença e ajudar de alguma forma a comunidade onde nasci, cresci e vivo até hoje.

Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Com certeza, o fomentar do diálogo e da discussão entre membros das várias associações e público em geral sobre questões pertinentes como a igualdade de direitos é sempre uma mais valia e uma contribuição para a abertura de todas as mentalidades.

Já trabalhou como o guarda-florestal de 2001 a 2009. Tendo em conta que é uma profissão associada maioritariamente ao masculino como foi a sua integração?
De início foi um pouco complicado fazia parte de um grupo restrito (onze mulheres guardas-florestais a nível nacional), trabalhei sempre com homens em diversas frentes de trabalho e muitas vezes em locais onde não existiam condições durante estes oito anos, no entanto foi das melhores experiências que tive, fiz grandes amizades, tive excelentes convívios e aprendi muita coisa a nível profissional com as dezenas de operários rurais com quem trabalhei. Consegui ultrapassar todas as dificuldades que me foram aparecendo através do diálogo e sendo uma pessoa muito activa, mas principalmente sendo humilde e sabendo ouvir e aceitar as opiniões/sugestões dos operários que comigo trabalhavam e que já tinham muitos anos de experiência. Criou-se um elo de respeito mútuo e de protecção, eles olhavam por mim e eu por eles.

Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
No início da minha carreira de guarda-florestal apareceram algumas situações em que senti discredibilidade pela minha opinião nas frentes de trabalho, mas a partir do momento em que mostrei ter o conhecimento teórico e prático das situações que apareciam e que as resolvia sem qualquer dificuldade, esta questão nunca mais se pôs até aos dias de hoje.

Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
Não. Se por acaso alguma vez alguém me discriminou por ser mulher passou-me ao lado, sempre fui uma pessoa muito determinada. Quando traço objectivos na minha vida procuro sempre cumpri-los da melhor forma, sem me interessar sobre o que as pessoas vão pensar ou se vou ser ou não discriminada por isso. Já fiz grandes sacrifícios pessoais, tirei uma licenciatura e mestrado enquanto trabalhava, cuidava dos afazeres de uma casa e criava um filho pequeno.

Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Há uns anos atrás a violência doméstica contra as mulheres era vista, infelizmente, com uma naturalidade assustadora, actualmente já é vista como deve ser vista: é um crime punido por lei. A sociedade já denúncia este tipo de violência e já apoia as vitimas, coisa que não acontecia no passado. A sociedade evoluiu imenso nos últimos anos, as pessoas estão mais conscientes do que se passa à volta delas, as mulheres em particular, são mais guerreiras lutam pelos seus direitos e deveres e têm objectivos definidos para as suas vidas.

Quais as perspectivas futuras para a AMPA-IT?
Gostaria que as mulheres ligadas directamente à pesca se unissem mais e participassem mais nesta associação, nomeadamente nas oportunidades de formação e que futuramente a liderassem com rigor e vontade de realizar um bom trabalho.
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 1 de Agosto de 2012
 

A afirmação das mulheres na pesca artesanal


As questões de género, as discriminações e desigualdades, afectam as mulheres nas diferentes áreas da sociedade. Esta noção tem levado a UMAR a desenvolver linhas de acção e projectos integrando a visão de género e a perspectiva feminista de “empoderamento” das mulheres, promovendo o seu reconhecimento e valorização, como no caso das mulheres na pesca.

A acção da UMAR nos Açores com vista a combater a invisibilidade e promover a igualdade e a valorização das mulheres na pesca, decorre desde o início de 2000, ganhando maior alcance na parceria com associações da pesca no projecto EQUAL Mudança de Maré. Confirmou-se que as mulheres estavam lá, na pesca, mas não eram visíveis. A sua actividade não era valorizada, nem reconhecida.

Outras parcerias têm vindo a acontecer como a parceria com Descalças Cooperativa Cultural, no âmbito da qual se têm desenvolvido actividades como o filme Mulheres na Pesca de Maria Simões, filmado em 2011, numa co-produção de Descalças e UMAR Açores, o qual tem vindo a ser apresentado em diferentes espaços na Região e no Continente Português.

Numa primeira fase, a acção centrou-se no combate à invisibilidade promovendo a valorização do papel das mulheres na pesca e a igualdade entre homens e mulheres, e de seguida na identificação da presença e papeis das mulheres na pesca, com vista ao reconhecimento da sua presença, particularmente na pesca artesanal. Neste contexto tem vindo a realizar-se trabalho em rede e de estudo sobre a situação das mulheres na pesca nos Açores – investigação acção participada - em que as mulheres são protagonistas activas.

As mulheres afirmam-se e, entretanto emergiram duas associações: Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da ilha Terceira (AMPA - IT) e a Ilhas em Rede - Associação de Mulheres na Pesca nos Açores, dando estrutura orgânica à afirmação e visibilidade das mulheres.

O intercâmbio de experiências e de conhecimentos tem sido uma componente forte desta actividade, com encontros inter-ilhas, acções formativas e workshops incluindo a realização de oficinas de Teatro do/a Oprimido/a  (TO) com a presença activa de mulheres da pesca.

O intercâmbio vai para além da região e fronteiras. A nível europeu: integração na Rede europeia de mulheres na pesca AKTEA e no Conselho Consultivo Regional das Águas Ocidentais Sul CCR-Sul.

Podemos assinalar, neste percurso, um conjunto de actividades - projectos e produtos da UMAR Açores e acontecimentos nesta área durante os últimos anos, com início em 2003 no Mudança de Maré até à presente data com o projecto Caminhos em Terra e no Mar, de cujo relatório final se destaca: “As mulheres, bem como o importante papel que estas desempenham no sector piscatório, são hoje bem mais (re)conhecidas dentro e fora de portas do que eram há uns anos atrás quando a UMAR Açores  resolveu trabalhar sobre a realidade e a consciência social relativamente à igualdade de direitos e oportunidades no sector. Sucedendo-se aos projectos “Mudança de Maré” e “As mulheres na Pesca dos Açores”, este “Caminhos em Terra e no Mar “, que agora chegou ao fim, poder-se-á considerar a 3ª etapa do desenvolvimento do movimento de valorização das mulheres na pesca nos Açores”.

Clarisse Canha - UMAR Açores
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 1 de Agosto de 2012
  

IX Noite de Igualdade



No dia 13 de Julho decorreu, na Delegação da Terceira da UMAR Açores / CIPA, a IX Noite de Igualdade, que incidiu sobre o trabalho das mulheres no sector da pesca nos Açores.  

Num primeiro momento, foi apresentado o documentário de Maria Simões intitulado “Mulheres na pesca”, onde é demonstrada a participação das mulheres nas várias fases da pesca, desde os preparativos feitos em terra: a preparação das gamelas, o safar aparelho, até ao transporte do pescado para a lota, a sua compra e venda. São também abordadas as dificuldades que passam as pessoas que vivem desta actividade.  

Num segundo momento, teve lugar uma tertúlia com a participação de três mulheres relacionadas, cada uma da sua forma, com a pesca e as mulheres pescadoras (de terra ou de mar): Carmen Ficher, trabalhou como gameleira durante 15 anos, foi uma das fundadoras da Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da Ilha Terceira (AMPA-IT); Sara Silveira, mestre em Engenharia do Ambiente, actual presidente da AMPA-IT e Alison Neilson, investigadora, responsável pelo projecto EDUMAR – Perspectivas Sobre o Mar e a Vida Marinha, Cetáceos e Turismo nos Açores e Terra-Nova e coordenadora do Centro Regional de Peritos em Desenvolvimento Sustentável nos Açores.

No final desta conversa informal, percebeu-se que pouco a pouco as mulheres têm avançado alguns passos na longa caminhada pela igualdade de género no espaço doméstico e também no mundo do trabalho, vendo cada vez mais reconhecida e valorizada a sua participação na sociedade.

Rita Ferreira
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 1 de Agosto de 2012