sexta-feira, 22 de junho de 2012

Destaque do mês de Junho de 2012

MARÍLIA CORDEIRO


Por Mariana Ornelas (*)

            Marília Fátima Martins Cordeiro, natural da ilha Terceira, vinte e nove anos de idade é uma das mulheres Bombeiras Voluntárias da ilha Terceira.

            Licenciada em Ciências da Educação, Marília trabalha actualmente como monitora de Inserção Social na Associação Cristã da Mocidade da Ilha Terceira (ACM).

            Quando perguntei qual teria sido a razão de voluntariar-se para os Bombeiros, esta respondeu logo de imediato que a sua motivação foi a dinâmica da profissão e o “bichinho que tinha dentro de si que a chamava para ser bombeira”.

De facto, o que mais me impressionou ao conhecer a Marília foi o entusiasmo com que esta falava da sua vida enquanto Bombeira. Apercebi-me instantaneamente, que a Marília era uma Bombeira por vocação. Nem as dificuldades que enfrentou, após a sua aceitação nos Bombeiros Voluntários move-a de atingir o seu sonho.

Quando a Marília entrou para os Bombeiros em 2003, as infra-estruturas não estavam preparadas para receber mulheres. Não existiam vestuários nem balneários para as mulheres, logo estas tinham que despir-se e vestir-se sem o mínimo de privacidade, facto que causava grande transtorno. No final de 2003, criaram-se as infra-estruturas necessárias para as mulheres, no entanto os vestuários continuam a ser demasiado pequenos em comparação com os dos homens.            

Além das dificuldades estruturais, também existem as da profissão e as culturais, facto que a Marília não quis deixar de realçar. “Quando se é uma mulher Bombeira, é necessário ser muito persistente e ter muito amor e vocação pela profissão, pois esta é muito dura fisicamente e acabamos por abdicar de alguns momentos com a nossa família, visto passarmos muitas horas a trabalhar. Para além disso, a sociedade em geral ainda associa esta profissão ao masculino, a aceitação a nível da população é difícil, as pessoas acham muito estranho ver uma mulher Bombeira”.

Apesar de haver um maior número de mulheres no ramo a vida de bombeira é muito difícil levando a que muitas acabem por desistir. A falta de apoio familiar, muitas horas e dias de trabalho, a população não estar sensibilizada para ver uma mulher bombeira, a nível pessoal a maioria dos namorados ou maridos não se sentirem bem com o facto da sua mulher trabalhar num mundo maioritariamente masculino, são as principais razões que a Marília apontou para o facto de muitas das suas colegas terem abandonado tal profissão.

Marília, também sentia algumas destas dificuldades, tendo-as ultrapassado, com o profissionalismo que é exigido à profissão, ignorando preconceitos ou suposições. Integrou-se na equipa procurou o seu espaço e entregou-se de corpo e alma à dinâmica de trabalho. Durante este processo, refere que nunca se sentiu discriminada pelos colegas, sempre houve muito companheirismo.

Neste momento e devido à sua vocação força de vontade e profissionalismo, a sua credibilidade nunca foi posta em causa. Os seus colegas masculinos muitas vezes acabam por deixa-la actuar como forma de demonstrar o seu voto de confiança. Esta refere “ Se formos profissionais não surge quaisquer problemas nesta ou em alguma profissão”.  

      Ao longo da entrevista, Marília sempre realçou o quanto se sente feliz pelo facto de nunca ter desistido, esta menciona “ Sinto-me muito feliz, nunca deixarei esta profissão, mesmo quando tiver filhos nunca desistirei. A família Bombeiros Voluntários torna-se a nossa segunda família. Esta família ensinou-me imenso, demonstrou o que era o companheirismo, a confiança uns nos outros e valores. Ser bombeira é uma aprendizagem dura mas externamente gratificante. O enriquecimento pessoal é enorme, os valores que aprendemos nesta profissão são para toda uma vida”.


 (*) Mariana Ornelas
Psicóloga da UMAR Açores / CIPA
Delegação da ilha Terceira

Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 22 de Junho de 2012

SABIA QUE...

Imagem cedida pelo autor
Mariana Ornelas (*)

            Não foi só a padeira de Aljubarrota que mostrou bravura a combater os espanhóis na respectiva batalha. Temos ao longo da História de Portugal, desde das Invasões Espanholas, às Invasões Napoleónicas, às Lutas Liberais, à Primeira Republica, ao Estado Novo e à Revolução de Abril, inúmeros casos de mulheres Portuguesas que perante crises lutaram pelas suas vidas, famílias, pela sua segurança, liberdade e pelos seus direitos.

            O caso mais famoso na nossa ilha Terceira é o caso da Brianda Pereira. Como todos nós sabemos, Brianda Pereira foi uma das responsáveis pela expulsão dos espanhóis, quando da invasão em 1581 na Baía da Salga.  

            Diz a história, que Brianda Pereira pertencia a uma das famílias mais nobres da cidade de Angra. O seu pai foi juiz ordinário da Câmara de Angra em 1553 e descendia de Pero Anes de Alenquer, um dos primeiros colonos da ilha Terceira.

Brianda Pereira mudou-se para a baía da Salga após o seu casamento. Casou-se com Bartolomeu Lourenço, que era dono de muitas terras e tinha uma abastada casa agrícola na zona litoral do Porto Judeu. A casa do casal situava-se na arriba da baía da Salga, onde residiram com os seus filhos até 25 de Julho de 1581.

            A 25 de Julho de 1581, no contexto da luta entre partidários de Filipe II de Espanha e de D. António I de Portugal, ocorreu nesse dia na baía da Salga, a famosa batalha da Salga.  

A batalha iniciou-se pelo desembarque de uma força espanhola que de imediato incendiou as searas e as casas existentes nas imediações, entre as quais muito provavelmente a de Brianda Pereira, aprisionando os homens que encontrou. Entre os prisioneiros figurava Bartolomeu Lourenço, que se encontraria ferido.

Nesse momento, Brianda Pereira fugindo com seus filhos e a ver provavelmente a sua casa e as searas em chamas e o seu marido ferido e prisioneiro dos espanhóis encheu-se de coragem e lançou as seus toiros em tropel sobre os espanhóis tendo estes após o sucedido, iniciado a sua retirada. A partir daqui estava lançado o mito de Brianda Pereira, tornando-se uma heroína.

Muito mais tarde, com a ajuda da muito bem oleada máquina de propaganda do Estado Novo, fizeram de Brianda Pereira uma figura popular, particularmente por apelar à heroicidade dos habitantes da ilha Terceira e assim alimentar o sentimento nacionalista e independentista Português.

No entanto, não desprezando o heroísmo de Brianda Pereira, esta foi mais uma das muitas demonstrações de coragem que uma mulher faz com o objectivo de proteger-se a si e há sua família. No momento da batalha, ao ver o seu marido ferido e prisioneiro dos espanhóis e ao ver-se sozinha a zelar pela segurança dos seus filhos, esta não pensou duas vezes em agir e elaborar tal estratégia. Qual seria a mulher que não faria o mesmo?


(*) Mariana Ornelas
Psicóloga da UMAR Açores / CIPA
Delegação da ilha Terceira


Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 22 de Junho de 2012