segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Destaque do mês de Janeiro de 2012

Ângela Gomes
“A iluminar os Açores”



Mariana Ornelas (*)

Ângela Paula Ventura Gomes é natural da ilha Terceira, tem 31 anos de idade e é uma das poucas faroleiras existentes no nosso País. Em Portugal só existe três mulheres faroleiras e todas elas prestam serviço em infra-estruturas nos Açores, facto que não deixa de ser externamente interessante como de positivo para as nossas ilhas. Ângela Gomes encontra-se neste momento a prestar serviço no Farol da Ferraria situado na freguesia dos Ginetes na ilha de São Miguel.
Após ter terminado o 12º ano, Ângela Gomes começou a ponderar o que iria fazer no futuro, a universidade estava fora de questão pois os seus pais não tinham possibilidade financeira para tal. Ângela refere que na altura ainda não havia senhoras nos faróis e nem se ouvia falar de tal possibilidade, deste modo antes de ser faroleira, esta teve vários trabalhos.
Só mais tarde, é que Ângela teve conhecimento de um concurso de faroleiros em que estavam abertas as inscrições para senhoras. “Quando este concurso abriu, não foi necessário ponderar muito, era uma vida que eu conhecia, uma vez que o meu pai também era faroleiro. O que me motivou a envergar pela vida de faroleiro foi o gosto pela mesma, um gosto que antes nem sabia ter porque nem era uma opção válida, visto esta profissão ser “dita masculina”. A partir do momento que entreguei a minha candidatura na capitania não mais pensei noutra profissão, era esta que eu queria e gostava.” O facto de Ângela ter um pai faroleiro fez com que a sua decisão fosse muito bem aceite pela família e preparou-a para os ofícios próprios da profissão. “Eu nasci e cresci nos faróis dos Açores, vi dia após dia, ano após ano o meu pai fazer o seu trabalho, portanto tinha uma ideia geral desta profissão. Sabia que teria de mudar de ilha/farol a cada 4 anos, que teria de andar sempre com "a casa as costas", eu sabia basicamente o que se tratava ser faroleiro mas claro que a parte mais técnica estava longe do meu conhecimento. Também estava consciente que era uma profissão "dita masculina", nunca tinha havido funcionárias do sexo feminino. Mas nada disto impediu que a paixão pela profissão crescesse dentro de mim”.
Neste momento, Ângela já consta com 7 anos de serviço nos Faróis e refere que faz o seu trabalho com a maior naturalidade porque no seu dia a dia esta não pensa que está a competir com elementos masculinos mas sim que está a contribuir para uma equipa de trabalho. “Parte também de nós próprias sentirmo-nos em igualdade, e é assim que eu me sinto, sou uma colega de serviço e não " uma mulher que está a competir num mundo maioritariamente masculino. A minha integração nos faróis foi muito fácil, durante estes 7 anos sempre fui ouvida e respeitada pelos colegas, chefes e superiores hierárquicos, nunca me senti dificuldades pelo facto de ser mulher. Sou tratada como qualquer outro faroleiro, pelo menos da parte das pessoas com quem trabalhei e trabalho actualmente não sinto qualquer discriminação. Compreendo que possa ter havido um momento de adaptação à introdução de mulheres nos faróis mas durante esse tempo nunca senti-me discriminada ou deslocada”.
Esta continua dizendo: “Eu não tive qualquer tipo de discriminação e quero acreditar que os colegas masculinos já estão habituados à ideia de haver elementos femininos nos faróis. Penso que, graças ao interesse demonstrado pela comunicação social ao longo destes anos que a nossa introdução nesta vida é já vista como normal, e quando nas funções do meu serviço, mostro o farol a visitantes eles estão mais interessados em conhecer o edifício, seus equipamentos e funcionalidades que em nós faroleiras. Têm curiosidade de como nós (faroleiros em geral) vivemos o nosso dia a dia, quais as nossas funções, etc. Poucos foram os que ficaram espantados por ver uma mulher de serviço.”
Ângela termina referindo “Sinto-me muito feliz e realizada na minha profissão, pois escolhi por gosto, sei que infelizmente nem todas as pessoas têm essa sorte. O fato de também todos os chefes e colegas que tive serem excelentes comigo ajuda a que nos apaixonemos mais ainda pelo serviço que fazemos, é como em qualquer desporto, se temos bons resultados numa equipa sentimo-nos realizados, mas se os resultados em equipa são negativos...temos que levantar a cabeça e fazer o nosso melhor para que quando chegarmos ao fim da nossa comissão tenhamos aquela sensação de "trabalho feito".

(*) Mariana Ornelas
Psicóloga da UMAR Açores
Delegação da Terceira

Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 19 de Janeiro de 2012

1 comentário:

  1. Grandes mulheres.
    Ângela gostava de ter encontrado uma mulher como tu aqui no Continente. Ainda me vou mudar para a ilha de S. Miguel

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