sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

BOAS FESTAS




A Equipa da Delegação da Ilha Terceira da UMAR Açores / CIPA

deseja-lhe um
 
Bom Natal

e um excelente
 
Ano de 2013
 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Destaque do Mês de Dezembro de 2012

Paula Lima
“Cada palavra de alguma importância é potencialmente o ponto de interação de um número infinito de histórias (…) Este facto demonstra a riqueza da língua (…) mas também uma fonte inesgotável de incompreensão, de mistificação de manipulação. (…) a história surge sempre num contexto social e cultural. Isto significa paralelamente a uma determinada história existem outras histórias, nas quais a função da primeira é analisada criticamente no seu contexto.” (Nijk 1978, pp.115 e 180)

Paula Maria Ficher Lima, de 41 anos de idade, natural da freguesia de São Mateus, foi a primeira mulher motorista de pesados de passageiros na Empresa de Viação Terceirense, na qual trabalha há 7 anos.
Aos 30 anos, a motorista dos minibus travou durante 4 anos um longo percurso até conseguir chegar ao seu local de trabalho, como a própria refere, “quando cheguei á EVT, houve uma grande admiração quando pedi a inscrição e referi que esta era para mim, disseram-me que não tinha experiência e que até ao momento nunca tinham contido para trabalhar na empresa como motorista uma mulher. Ao longo de 4 anos vi a entrar pessoas com experiencia igual à minha e, sempre que me dirigia à empresa para saber da minha situação era sempre referido a minha falta de experiência. Foi um percurso complicado mas com persistência e pressão de certa forma da minha parte, após quatro anos de espera aceitaram-me e foi assim, que consegui vencer esta batalha”.
A 21 de Junho de 2005, Paula Maria Ficher Lima com 34 anos de idade, finalmente torna-se a primeira mulher a entrar para a EVT como motorista de pesados de passageiros, mas refere, que trabalhar num “mundo” maioritariamente masculino não é fácil, “pois, se já é difícil quando se é novo num trabalho, então quando se é mulher, mais difícil se torna, mas, com cuidado no diálogo, na perseverança e na exigência do respeito, consegue-se afirmar o nosso espaço entre os outros. Desta forma, à que saber ouvir quem está há mais tempo na profissão, aceitando as suas opiniões, ainda que estas sejam divergentes das minhas e, é deste modo, que deixam de ver-me de certa maneira como mulher e, passam a olhar como “um” colega cuja, a profissão é a mesma”.
Afirma, que apesar de ser a primeira mulher a trabalhar como motorista na EVT, foi bem recebida pela empresa e principalmente pelos passageiros, lembra-se da curiosidade e admiração das pessoas, referindo que,“faziam imensas perguntas e, muitas mulheres davam-me os parabéns, por ser a primeira mulher motorista, era um orgulho, diziam elas”.
Segundo a entrevistada, uma das suas principais dificuldades foi a farda, “sendo esta masculina tive de adaptá-la e até, de certo modo, criar a minha própria farda de acordo com os padrões exigidos pela EVT, tentando de certo modo torná-la mais feminina”.
No exercício da sua profissão nunca sentiu que a sua credibilidade fosse colocada em dúvida mas, infelizmente, já se sentiu muitas vezes discriminada por ser mulher, referindo que, “é pena que na nossa sociedade as mulheres sejam ainda discriminadas, uma vez que são dadas mais oportunidades de trabalho aos homens”.
Para finalizar, à pergunta, como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral, a entrevistada refere, “que a nossa sociedade cada vez mais perde valores, a sua ignorância rege-se pelo facto de não existir interajuda para com os outros. Estamos cada vez mais numa sociedade que é conduzida apenas por juízos de valor. A prova disto é o próprio“sistema” de proteção que envolve a vítima de violência doméstica, na minha opinião, é a primeira a discriminar a própria mulher e, explico o porquê de pensar assim, pelo facto de ser a vítima a ter de sair de casa e, em muitas das vezes sem ninguém (amigo ou familiar) para a apoiar, outro exemplo, encontra-se presente nas várias tentativas de denuncia feitas pela vitima que faz com que muitas das vezes não sejam levadas a sério, entre outros exemplos e, para isso não encontro nenhuma resposta social, apenas vejo, o apontar de um dedo”.

Entrevista realizada por Lisete Medeiros
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 19 de Dezembro de 2012.

Marcha Mundial de Mulheres “Mensagem numa garrafa”


Integrada nas iniciativas realizadas pela UMAR Açores (Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres) / CIPA (Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade), no âmbito da campanha “24 Horas de Acção Feminista pelo Mundo” da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), a Delegação da Ilha Terceira divulgou uma mensagem contendo a versão resumida da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade. Neste documento, redigido pelo referido movimento internacional de mulheres, constam os princípios que regem a MMM: a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz e a solidariedade, assim como um alerta para os direitos das mulheres e para as opressões que estas vivem pelo mundo, desde a crise económica e o impacto que esta tem nas suas vidas à violência que sobre elas é exercida. De forma simbólica, a referida mensagem foi entregue em mãos a uma velejadora de nacionalidade suíça, ancorada na marina da Praia da Vitória que irá levá-la consigo até ao seu destino, onde dará continuidade a uma cadeia, passando a outra pessoa e assim sucessivamente, de modo a manter a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade a circular pelo mundo.
Esta acção decorreu no dia 10 de Dezembro, dia Internacional dos Direitos Humanos.

Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 19 de Dezembro de 2012.
 
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Marcha Mundial de Mulheres. Reportagem RTP Açores


Iniciativa da UMAR Açores / CIPA
no âmbito da Marcha Mundial de Mulheres
Reportagem no telejornal da RTP Açores de 10 de Dezembro de 2012
 

 
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Marcha Mundial das Mulheres “Mensagem numa garrafa”


Integrada nas iniciativas a realizar pela UMAR Açores (Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres) / CIPA (Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade), no âmbito da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), a Delegação da Ilha Terceira vai lançar ao mar seis garrafas de vidro com uma mensagem relativa a este movimento de mulheres que tem uma expressão mundial. Pretende-se, com um gesto simbólico, divulgar a missão da MMM e fazer chegar, quem sabe, a outro(s) país(es) esta mensagem. A iniciativa tem lugar no dia 10 de Dezembro, dia Internacional dos Direitos Humanos, entre as 12h e as 13h, em vários miradouros da Ilha. Na mensagem (escrita em português e inglês), além da referência feita à MMM e aos seus princípios, são dadas algumas indicações como o contacto da UMAR Açores e a intenção de que seja criada uma cadeia, ou seja, quem encontrar a mensagem deverá informar a Associação e lançá-la novamente de modo a que esta continue o seu percurso.  

 
 
A Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade
 
Nós, as mulheres, há muito tempo marchamos para denunciar e exigir o fim da opressão que vivemos por sermos mulheres e, para afirmar que a dominação, a exploração, o egoísmo e a busca desenfreada do lucro produzem injustiças, guerras, ocupações, violências e devem acabar.
Estamos construindo um mundo no qual a diversidade é uma virtude; tanto a individualidade como a coletividade são fontes de crescimento; onde as relações fluem sem barreiras; onde a palavra, o canto e os sonhos florescem. Esse mundo considera a pessoa humana como uma das riquezas mais preciosas. Um mundo no qual reinam a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a justiça e a paz. Este mundo nós somos capazes de criar. Constituímos mais da metade da humanidade. Damos a vida, trabalhamos, amamos, criamos, militamos, nos divertimos. Garantimos atualmente a maior parte das tarefas essenciais para a vida e a continuidade da humanidade. No entanto, nessa sociedade continuamos sendo oprimidas.
A Marcha Mundial das Mulheres, da qual fazemos parte, identifica o patriarcado como sistema de opressão das mulheres e o capitalismo como sistema de exploração de uma imensa maioria de mulheres e homens por parte de uma minoria.
Esses sistemas se reforçam mutuamente. Eles se enraízam e se conjugam com o racismo, o sexismo, a misoginia, a xenofobia, a homofobia, o colonialismo, o imperialismo, o escravismo e o trabalho forçado. Constituem a base dos fundamentalismos e integrismos que impedem às mulheres e aos homens serem livres. Geram pobreza, exclusão, violam os direitos dos seres humanos, particularmente os das mulheres, e põem a humanidade e o planeta em perigo.
 
Nós rejeitamos esse mundo!
Propomos construir outro mundo, onde a exploração, a opressão, a intolerância e as exclusões não existam mais; onde a integridade, a diversidade, os direitos e liberdades de todas e todos são RESPEITADOS.
 
 
 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

MENSAGEM



“Tinha 24 anos quando conheci alguém na minha vida. Para mim foi amor à primeira vista, namorámos e ficámos noivos e por fim casámos. Deste casamento nasceram dois filhos, um menino e uma menina, com muito amor da minha parte. Ao fim de um tempo o príncipe acabou. Começaram os insultos, os maus-tratos, mas como eu o amava pensei que talvez acabasse. Mas não acabou, só piorou. Fiquei sem pais, estes faleceram, sozinha continuei casada, tinha dias bons, tinha dias maus… Quando vinham os bons pensava que tudo ia mudar e que não mais me maltratava. Os filhos cresceram e os maus-tratos para eles também, a ponto de eu pensar no suicídio, que talvez fosse a minha salvação, para a dor que eu tinha. Mas uma luz, um pensamento surgiu que a minha vida tinha que mudar. Depois de um desentendimento, ele saiu de casa e eu fiquei com os meus filhos. Foi a melhor época da minha vida, vivíamos os três em família. Depois regressou e eu tive que sair. Fui para casa de um familiar que me apoiou muito e a quem muito agradeço. Hoje sou feliz com os meus filhos, estamos numa casa sozinhos, pobre mas feliz. Venho por este meio dizer que tem que se ter força, é muito difícil mas tem que se pensar nos nossos filhos e em nós. Temos direito a ter valor e não ser aquilo que nos chamaram. Quero agradecer a toda a gente que me ajudou, pessoas amigas, família, instituições. E que a vida não acaba por seres vítima, apenas recomeça uma vida nova... E que a justiça se faz!”
Maria
 
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 1 de Dezembro de 2012.
 

KRAV MAGA – Workshop de Defesa Pessoal para Mulheres


Teve lugar no passado dia 27 de Outubro, na Escola de Krav Maga da E.S.J.E.A. de Angra do Heroísmo um Workshop de defesa pessoal exclusivamente direccionado para mulheres. Este partiu de uma iniciativa da UMAR Açores/ CIPA, em parceria com a referida escola, e contou com a orientação técnica do instrutor federado Rui Ferreira. Participaram utentes, associadas e técnicas da UMAR Açores/ CIPA, assim como outras interessadas.

O KRAV MAGA (“combate próximo”, em hebraico) é uma modalidade criada por Imi Lichtenfeld no final dos anos 40, com o objectivo de se tornar um sistema de defesa pessoal do exército israelita. Dada a sua eficácia, esta técnica de auto-defesa foi alargada a todo o mundo, sendo introduzida na Europa por Richard Douieb. Acabou por se tornar uma modalidade acessível a todas as pessoas, de modo a que qualquer cidadão e cidadã tivesse a possibilidade de se proteger em situações ameaçadoras. Este Workshop teve como objectivo trabalhar estratégias de prevenção e defesa perante situações de perigo como ameaças, ataques fortuitos, violação, entre outros.

A todas/os as/os interessadas/os em inscrever-se nesta modalidade, os treinos decorrem na sala de ginástica (piso 0) da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade em Angra do Heroísmo, às terças e quintas das 17h45 às 18h45 e das 18h45 às 20h00, aos sábados das 12h30 às 13h30. Mais informações em www.kravmagaportugal.com.

Ao instrutor Rui Ferreira o nosso agradecimento pela atenção e disponibilidade que manifestou desde logo para com esta iniciativa.

Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 1 de Dezembro de 2012.
 
 

Volta à Ilha Terceira contra a violência doméstica

Divulgação dos serviços da UMAR Açores na Ilha Terceira


No âmbito do plano de actividade da UMAR Açores / Cipa para o ano de 2012, realizou-se na passada segunda feira dia 26 de Novembro uma caravana automóvel intitulada Volta à Ilha Terceira contra a violência. Com esta iniciativa pretendeu-se assinalar o Dia internacional pela eliminação da violência contra a Mulher – 25 de Novembro.
 
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 1 de Dezembro de 2012.
 
 
 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

X Noite de Igualdade - Jornalismo: Crise e Desafios



A UMAR Açores / CIPA - Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade, convida-o/a a participar, na próxima quarta-feira dia 5 de Dezembro, na X Noite de Igualdade subordinada à temática do “Jornalismo: Crise e desafios”.

A iniciativa, que decorrerá no auditório do Rádio Clube de Angra, com início marcado para as 20H30, tem por objectivo a discussão em torno da igualdade na vida laboral, em particular no que aos profissionais da comunicação social açoriana diz respeito.

Numa altura em que os órgãos de comunicação social em todo o mundo, e no arquipélago, atravessam uma das mais difíceis crises, económicas, estruturais e mesmo de mudança de paradigma, pretende-se uma discussão em torno dos desafios que o Jornalismo, enquanto garante da Democracia, vive perante a fragilidade do sector e da classe profissional que o suporta.

Trata-se, pois, de uma X Noite de Igualdade centrada num dos pressupostos da Constituição Portuguesa: a da liberdade de imprensa e dos meios de comunicação social, essenciais ao funcionamento igualitário de uma sociedade.

Apesar de estruturado num debate moderado por um conjunto de jornalistas – nomeadamente por Carina Barcelos, Francisco Faria, Marta Silva, Armando Mendes, Humberta Augusto – pretende-se uma reflexão e uma participação alargada a toda a plateia.

À semelhança de anteriores edições, a X Noite de Igualdade é aberta ao público em geral.
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Caravana automóvel. Volta à Ilha Terceira contra a violência




A UMAR Açores / CIPA, convida-o/a a participar na Volta à Ilha Terceira contra a violência que se realiza na próxima segunda feira dia 26 de Novembro de 2012.
 
Com esta iniciativa pretende-se assinalar o Dia internacional pela eliminação da violência contra a Mulher – 25 de Novembro.
 
A concentração será no parque do Bailão em Angra do Heroísmo pelas 10 Horas.
 
Traga a sua viatura e participe nesta caravana!!!
 
Ajude-nos a divulgar. Obrigada.


terça-feira, 30 de outubro de 2012

O impacto do “furacão” crise na vida feminista

Marcha Mundial das Mulheres
 


A UMAR em parceria com a Marcha Mundial de Mulheres (MMM) arrancou no dia 4 de Outubro de 2012 a nível europeu, com uma campanha feminista anti-austeridade com o objectivo de alertar para o impacto da crise na vida das mulheres. A campanha será assinalada em diferentes datas como, o dia 17 de Outubro com ações em torno da erradicação da pobreza, dia 10 de Dezembro dia Internacional dos Direitos Humanos, com 24 horas de ações feministas à volta do mundo focadas na saúde e nos direitos sexuais e reprodutivos. A campanha encerra no dia 8 de Março Dia internacional da Mulher de 2013, onde durante esse vasto período de tempo serão realizadas várias iniciativas com o objetivo de recolher depoimentos de como decorre a vida das mulheres com a invasão da crise.
Esta campanha acontecerá conjuntamente em várias cidades europeias. Para a MMM é importante fundamentar o estado "chocante" de desempregof eminino e a precariedade laboral entre as mulheres que se vem observando ao longo dos tempos.
Para que fosse esclarecido de um modo sintético a temática MMM fomos entrevistar Judite Fernandes, que neste momento pertence ao Comité Internacional, como uma das representantes da região Europa.
 
Judite Fernandes
O que é a Marcha Mundial das Mulheres?
A MMM é um movimento feminista internacional que se constituiu em 1998 para unir as Mulheres do mundo em ações de luta contra a violência e a pobreza.
Todas as manifestações que vão surgindo ao longo dos tempos têm um propósito, uma história, que levou a criação das mesmas. Qual a história da MMM e o porquê do seu surgimento?
A MMM nasceu no ano 2000 como uma grande mobilização que reuniu mulheres do mundo todo em uma campanha contra a pobreza e a violência. As acções começaram a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e terminaram em 17 de Outubro, organizadas a partir do chamado “2000 razões para marchar contra a pobreza e a violência sexista”.
A inspiração para a criação da MMM partiu de uma manifestação realizada em 1995, no Quebec, no Canadá, quando 850 mulheres marcharam 200 quilómetros, pedindo, simbolicamente, “Pão e Rosas”. A acção marcou a retomada das mobilizações das mulheres nas ruas, fazendo uma crítica contundente ao sistema capitalista como um todo. No seu final, diversas conquistas foram alcançadas, como o aumento do salário mínimo, mais direitos para as mulheres imigrantes e apoio à economia solidária.
Entre os princípios da MMM estão a organização das mulheres urbanas e rurais a partir da base e as alianças com movimentos sociais. Defendemos a visão de que as mulheres são sujeitos ativos na luta pela transformação de suas vidas e que ela está vinculada à necessidade de superar o sistema capitalista patriarcal, racista, homofóbico e destruidor do meio ambiente.
A MMM busca construir uma perspectiva feminista afirmando o direito à autodeterminação das mulheres e a igualdade como base da nova sociedade que lutamos para construir.
Ações internacionais da Marcha Mundial das Mulheres
A Marcha já realizou três ações internacionais, nos anos 2000, 2005 e 2010. A primeira contou com a participação de mais de 5000 grupos de 159 países e territórios. Seu encerramento mobilizou milhares de mulheres em todo o mundo. Nesta ocasião, foi entregue à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, um documento com dezassete pontos de reivindicação, apoiado por cinco milhões de assinaturas. Essa ação foi caracterizada como um primeiro chamado de largo alcance, um passo no sentido da consolidação da MMM como movimento internacional.
A segunda ação mundial, realizada em 2005, novamente levou milhares de mulheres às ruas. A Marcha construiu a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, em que expressa sua visão das alternativas económicas, sociais e culturais para a construção de um mundo fundado nos princípios da igualdade, liberdade, justiça, paz e solidariedade entre os povos e seres humanos em geral, respeitando o meio ambiente e a biodiversidade. De 8 de março a 17 de outubro daquele ano  a partir de um retalho de cada país, foi construída uma grande Colcha Mosaico Mundial de Solidariedade, uma forma simbólica de representar a Carta.
3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres
Em 2010, a MMM realizou sua terceira ação internacional, nos períodos de 8 a 18 de Março, e de 7 a 17 de Outubro, com mobilizações de diferentes formatos em vários países do mundo. O primeiro período marcou o centenário do Dia Internacional das Mulheres com diversas marchas. O segundo teve ações simultâneas, com um ponto de encontro em Kivu do Sul, na República Democrática do Congo, expressando a solidariedade internacional entre as mulheres, enfatizando seu papel protagonista na solução de conflitos armados e na reconstrução das relações sociais em suas comunidades, em busca da paz.
Qual o seu papel na MMM?
A minha primeira participação na MMM aconteceu em Vigo em 2008, no âmbito do meu projeto de doutoramento, como observadora. Curiosamente, apaixonei-me pela MMM na Terceira, no decorrer do Congresso Feminista da UMAR-Açores, quando ouvi a comunicação da Almerinda Bento sobre a Marcha. A partir daí tornou-se que era algo com que me identificava muito, de maneira que comecei a participar na coordenação portuguesa da Marcha em 2009. Em 2010 fui eleita para o Secretariado Europeu e em 2011 para o Comité Internacional, como uma das representantes da região Europa.

Qualquer pessoa pode aderir à Marcha? Qual o processo para aderir aos eventos realizados pela Organização da MMM?
Qualquer mulher pode participar ativamente na Marcha, desde que se identifique com os sues princípios fundamentais (pode aceder à Carta Mundial aqui: http://sof.org.br/marcha/?pagina=cartaMundial) . Para aderir às suas ações, nomeadamente neste momento à Campanha europeia sobre o impacto da crise na vida das mulheres, pode entrar em contacto com a Marcha em Portugal através do email mmmulherespt@gmail.com ou nos Açores entrando em contacto com a UMAR-Açores em São Miguel, Faial ou Terceira (pode fazê-lo através do email geral@umaracores.org). A informação sobre a Campanha em Portugal está aqui: http://mulherescontraausteridade.blogs.sapo.pt e sobre a Campanha a nível europeu aqui: http://femmeseneurope.eu . Em ambos estes sites é também possível subscrever o protesto Feminista Anti-austeritário lançado por Portugal e que será no decorrer da campanha entregue aos governos europeus.
Sendo os Açores um meio muito pequeno, acha que este tipo de ações é reconhecido pelo público-alvo em questão?
Penso e espero que sim. A Marcha nos Açores participou em todas as ações internacionais com um leque muito diversificado de eventos, a que houve sempre grande adesão.
Gostaríamos que deixasse um apelo às Mulheres Terceirenses, com intuito a sensibilizá-las a aderirem a estas ações implementadas pela MMM.

Reclamamos uma vida digna que coloque as pessoas no centro da vida, que ponha em destaque os cuidados perante uma economia que não é algo abstrato nem decisões longínquas, mas que determina e afeta o dia-a-dia da vida das pessoas. Para o fazer, é fundamental a participação de todas!
Sara Ataìde
Educadora Social
 
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 24 de Outubro de 2012.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Workshop de Defesa Pessoal para Mulheres




A UMAR Açores / Cipa, com o apoio da Federação Portuguesa de Krav Maga (instrutor Rui Ferreira), vão realizar um workshop de Defesa Pessoal para Mulheres no dia 27 de Outubro de 2012.

Este vai decorrer na Sala de Ginástica da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, das 10h às 12h e das 14h às 16h.

O objectivo é dotar as participantes de estratégias para se defenderem perante situações ameaçadoras (ameaça, assalto, violação e ataque fortuito).

É dirigido às utentes, associadas, técnicas de instituições que trabalham no apoio à mulher em risco e outras mulheres que estejam interessadas.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Destaque do Mês de Setembro de 2012


Rosa Silva, a terceirense das rimas
 

Natural da freguesia da Serreta, Rosa Maria Correia da Silva, conhecida por Azoriana, a terceirense das rimas, tem 48 anos e é assistente técnica de estatística na Secretaria Regional da Saúde. A sua grande paixão é a poesia que aliou à blogosfera, sendo responsável pelos espaços www.azoriana.blogs.sapo.pt e www.silvarosamaria.blogs.sapo.pt
A 2 de Abril de 2011 publicou o seu primeiro livro, intitulado Serreta na Intimidade, onde se podem ler vários poemas da autora.
 
 
“Dizem que sou poeta e passei a acreditar que sim.”

 
Como começou e o que a motivou a escrever poesia?
Após ter conhecimento da blogosfera, o ter assunto para escrever assiduamente e a descoberta de rimar e tornar-se repentista. Dizem que sou poeta e passei a acreditar que sim.
Já cantou ao desafio. Tendo em conta que é uma atividade associada maioritariamente ao masculino como foi a sua integração?
A integração foi fácil porque foi o masculino que me convidou e me aceitou bem. As dificuldades prendem-se com algum desconhecimento desta minha vertente e o facto de não ser convidada para eventos em palco, uma vez que a maior parte das cantorias são feitas em bares ou em convívio de amigos. Propriamente em palco foram poucas vezes que atuei.
Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão ou noutra atividade que desempenhe, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
A mulher nem sempre tem a mesma aceitação que o homem talvez por ainda viver num meio pequeno, como é o das ilhas. Aos poucos, vai se integrando em tarefas que até há bem pouco eram exclusivas dos homens. Não sei bem da conversa de “bastidores” mas, pela frente, acho que tenho credibilidade pelo facto de desempenhar com convicção o que quer que me seja pedido, seja tarefa feminina seja do tipo masculina. Desde pequena que fazia parte integrante de tarefas domésticas onde prevalecia o masculino: malhar com mangual o feijão, tremoço, favas; ir à frente da vaca para fazer o rego para as sementeiras, etc.
Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Sim. É preciso fazer valer os direitos e deveres das mulheres, sobretudo das mais frágeis.
Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Eu vejo-as com necessidade de muito apoio para se libertarem de um modo de vida que não é benéfico para ninguém. Eu própria já passei por isso e, graças à UMAR consegui libertar-me de um mau modo de vida.
Gosta de ser mulher?
Gosto porque fui esposa, mãe e não há nada melhor que ver o fruto de uma união… Mas tenho pena de não ter vivido as bodas de prata de um casamento que quisera para sempre e que não o foi… Tenho pena de ter descoberto o Amor fora de um tempo que queria tê-lo. Nunca é tarde para amar e muitas vezes é graças à UMAR que eleva o ser MULHER. Nunca desistam de ajudar a Mulher frágil pela violência que acontece porque o mundo está a padecer de valores.

 
CANTINHO DO CÉU

Nasci num cantinho do céu!
Por entre beijos das flores e acenos dos passarinhos.
Cresceu em mim uma vontade de voar
Quis saber se no mundo tudo era igual ao meu cantinho
Mas nem sempre a resposta era uníssona.

Fui para outros lugares
Até naveguei pelos mares
E experimentei a sensação dos pássaros
Estive perto das nuvens
E foi aí que me apercebi que o pontinho onde eu nasci
Perdia-se na imensidão global.

Então para saberem que ele existe,
Por vezes sob um tecto de nevoeiro
Mas com a Luz de uma Mãe com séculos de Amor,
Comecei a falar dele à luz do meu conhecimento.
De repente, percebo que, afinal, este cantinho,
Da minha infância e juventude,
Se avista mais longe do que eu imaginava
E está presente em mim
Faz parte de mim
Mesmo estando ausente dele,
E atraiu o encanto do mundo.

Agora posso dizer:
Nasci no cantinho do céu,
Na pequena serra, Serreta.

Rosa Silva, Azoriana
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Setembro de 2012

O apoio psicológico à mulher vítima de violência doméstica


Quando nos chega uma mulher que está num relacionamento onde sofre violência conjugal, verificamos que esta na maior parte das vezes se encontra debilitada psicologicamente. E porquê? Porque as circunstâncias em que vive potenciam o desenvolvimento de instabilidade emocional e daí por vezes surjam sintomas de ansiedade, depressão e mesmo stress pós-traumático.  

Estar num relacionamento em que o companheiro é ciumento, controlador, possessivo, agressivo, leva a que um sentimento de insegurança e medo se instale, condicionando toda a vida da pessoa. Ser humilhada, insultada, ameaçada e desvalorizada constantemente, faz com que a auto-estima sofra danos muito difíceis de reparar.

É preciso em primeiro lugar ouvir esta sobrevivente que se encontra face a face connosco depois de ter dado o difícil passo que é reconhecer o problema e procurar ajuda. E compreender aquilo por que passou. Não é necessário para tal ter vivido as mesmas circunstâncias, mas sim tentar pôr-se no lugar da pessoa e perceber que os seus sentimentos são legítimos, e mais do que mostrar simpatia, é essencial criar empatia. Aí se fundamenta a aliança terapêutica, através da qual será desenvolvido o processo de recuperação da estabilidade psicológica e emocional.

Em segundo lugar deve ser devolvida voz activa à mulher que se nos apresenta. Damos a conhecer os vários recursos existentes, exploramos as várias hipóteses de acção, mas a última palavra cabe sempre a ela. Deve reconhecer que é capaz de tomar decisões sobre a sua vida, quando muitas vezes isso lhe foi privado. O conhecimento dos seus direitos e do seu valor enquanto pessoa potencia o empoderamento da mulher, levando a que esta admita que não se deve deixar maltratar, pois quem gosta não faz sofrer: “quanto mais me bates, menos gosto de ti”. 

É impossível viver uma situação de violência doméstica e não sofrer qualquer impacto com isso. A pessoa pode é ser mais ou menos afectada, dependendo de inúmeros factores: as características e duração do relacionamento abusivo, as próprias características de personalidade da vítima, uma vez que esta pode ser mais resiliente e ter recursos individuais para lidar com as adversidades, assim como o facto de ter uma boa rede social de suporte, o que também constitui um factor protector.

Muitas vezes a mulher não reconhece mas sente uma grande dependência emocional, dificuldade em imaginar e mesmo em concretizar uma vida autónoma e porque não dizer, sozinha. A ideia de “cara metade” e “alma gémea”, dá a entender que uma pessoa só está incompleta, o que não corresponde de todo à verdade. A pessoa, mesmo sem parceiro/a é capaz de viver a sua vida e desenvolver todo o seu potencial e mesmo ser feliz, porque não? A sabedoria popular dá alguns conselhos duvidosos: “entre marido e mulher não metas a colher”, mas também os dá muito acertados “antes só que mal acompanhado/a”!
 
Rita Ferreira
Psicóloga UMAR Açores / CIPA
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Setembro de 2012
 
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Destaque do Mês de Agosto de 2012

 
JOANA PINHEIRO
 

Xénia Leonardo (*)

A UMAR Açores/CIPA, conversou com uma mulher que se destaca na vida quotidiana da maior parte dos cidadãos. Se alguma vez comprou ou vendeu uma casa ou herdou algum bem, pode ter estado na presença desta profissional. Estamos a falar da Srª Notária do concelho da Praia da Vitória, a Drª Joana Maria Martins Pinheiro.
Esta jovem de trinta e quatro anos de idade, concedeu-nos o privilégio de falar de si, enquanto mulher e enquanto profissional do notariado e de nos responder a algumas perguntas.

Como lhe surgiu a ideia de ir para esta profissão?
A ideia foi surgindo com o evoluir da minha vida profissional: primeiro quis ser Advogada (sou da opinião que, antes dos 18 anos, ninguém tem maturidade e informação suficiente para saber o que quer ser “quando for grande”, mas, como muita gente, eu achava que os Advogados e Advogadas das séries americanas eram um espectáculo!!!); depois, já durante o curso de Direito, sonhei em ser Juiz; no entanto, enquanto exercia a Advocacia, trabalhava maioritariamente na área dos Registo e Notariado, e, quando se deu a Privatização do Notariado e surgiu a hipótese de me tornar Notária, não hesitei!

Fale um pouco de todo o trabalho que desenvolve enquanto notária.
Enquanto notária, e no princípio da liberdade contratual, analiso as pretensões das pessoas, aconselho-as juridicamente e concretizo em actos e contratos as suas vontades, o que, normalmente, se traduz em Procurações, Testamentos e variadas Escrituras, como Compras e Vendas, Mútuos, Hipotecas, Partilhas, Contratos Promessa, Arrendamentos, etc. O Cartório presta também assessoria na resolução dos mais variados tipos de situações, obtenção de documentação, registos automóveis, prediais e comerciais, etc. Aquando da concretização dos actos asseguro-me de que o que está a ser feito corresponde efectivamente à vontade de todos os interessados, e que todos estão devidamente esclarecidos, capazes de decidir livremente e conscientes das consequências legais do acto.

Houve algum motivo especial que a levou a escolher o concelho da Praia da vitória para exercer as suas funções?
Foram várias as circunstâncias que me levaram a optar por concorrer, em primeiro lugar, ao Cartório Notarial da Praia da Vitória: em primeiro lugar, queria fixar-me profissionalmente num lugar diferente de onde estava (Lisboa); em segundo lugar, já conhecia a Ilha Terceira há uns anos e desde que cá vim pela primeira vez nasceu em mim uma vontade enorme de cá voltar sempre que podia; por último, tomei conhecimento de que a Licença para instalação do cartório privado da Praia da Vitória estava a concurso, e não pensei duas vezes!

Alguma vez se sentiu discriminada por ser mulher e exercer esse cargo?
Senti, por vezes, alguma perplexidade quanto à minha idade (comecei a exercer a profissão com 27 anos), mas nunca senti qualquer “resistência” pelo facto de ser Mulher.
Antes de mim já muitas Mulheres exerceram esta profissão, pelo que não sou, propriamente, uma “novidade”.
Pelo contrário, tenho sido muito acarinhada e elogiada por todos os clientes que me procuram, que vêm os seus problemas resolvidos, com profissionalismo e celeridade aliados a simpatia e vontade de ajudar.

E relativamente a outros tipos de discriminação, que afectam a mulher, alguma vez os sentiu?
Felizmente não, pois não sei se me conseguiria conter…
Talvez por sorte que desde que nasci tenho andando em ambientes (família, vizinhos, amigos, escolas, passatempos, desportos, etc) nos quais a “verdade absoluta” é que somos todos iguais; quer em relação ao género, à cor da pele, à profissão, às opções religiosas, à situação económica, etc; é claro que há sempre alguém com uns “ideais” um pouco diferentes, mas não são mais do que uma pequena minoria, e que, por fraca argumentação, ainda dão mais clarividência à lógica da igualdade.
Nunca senti qualquer discriminação, mas talvez já tenha ouvido algum comentário discriminatório; se tal aconteceu nem me lembro, pois, por não lhe encontrar qualquer validade, terá passado para a parte “dispensável” da minha memória!

No concerne à violência doméstica / no namoro, como acha que as pessoas de uma forma geral encaram esta problemática?
Bem, quanto à igualdade entre géneros, e embora as mentalidades estejam a mudar, ainda há muita divergência de opinião.
No entanto penso que a opinião grandemente maioritária é contra a violência doméstica / no namoro, seja qual for o género agressor (também existem bastantes casos de homens violentados, mas estes ainda são menos expostos).
Na minha opinião uma pessoa “agressora” não o é por acreditar que o possa ser, que a sociedade o permite, ou que assim é que se devem resolver as coisas; é-o por padecer de capacidade mental que permita a resolução de problemas com calma e maturidade; é-o por não ter noção do limite dos seus direitos e liberdades; e na minha opinião, uma pessoa violenta e normalmente agressora está muito aquém do desenvolvimento social exigível nos nossos tempos.

Considera que existe uma sensibilização correcta e suficiente na sociedade, para este tipo de problemáticas?
Penso que as duas problemáticas aqui em questão (igualdade entre géneros e violência doméstica) são bastantes diferentes, embora sempre algo relacionadas.
Tenho forte convicção na igualdade entre géneros, pelo acho que existe na sociedade uma sensibilização correcta e suficiente. Mas demora o seu tempo, talvez algumas gerações, a chegar a toda a gente. Se, hoje em dia, ainda existem gerações novas com crenças de que a mulher tem de ter um certo tipo de tarefas, obrigações e muitas limitações na sua vida social e afectiva, estas crenças, ainda que cada vez com menos força, estão a ser transmitidas a jovens.
Quanto à violência (que inclui sempre agressões físicas e psicológicas), o problema não será resolvido, para as pessoas que a sofrem, por sensibilização. Quem não tem coragem para enfrentar uma eventual agressão, talvez nunca a venha a ter. O que é importante é que as pessoas sejam habituadas a acreditar, quase desde que nascem, que nunca deverão deixar-se agredir, seja esta agressão física ou psicológica. Se acreditaram a sério nisto, nem darão hipótese a uma primeira agressão. E estarão a salvo, em princípio, para sempre!!!

Como acha que as mulheres se encontram actualmente na sociedade? E como esta mesma sociedade as encara?
Acho que estão em forte “expansão”! Cada vez mais se vêem mulheres de sucesso e independentes sem que, para isso, tenham deixado de serem “mães” ou “mulheres de família”.
Além de as mulheres serem já tão independentes, estão cada vez mais a ocupar cargos públicos, políticos ou de grande responsabilidade, demonstrando que, em nada, somos inferiores. Desempenhamos toda e qualquer função com a mesma capacidade e destreza que os homens. Nem há qualquer razão biológica para que assim não seja, ou há???
E acho que a sociedade tem encarado com naturalidade esta evolução!

O que pensa do Movimento Feminista?
Tem sido útil, pois para tudo é preciso uma frente forte. Se não tivessem existido mulheres capazes de ir à luta, mesmo que isso lhes custasse a vida, talvez a nossa realidade actual não fosse tão óbvia…
É claro que em tudo temos de ter cuidado com extremismos, pois nunca se poderá chegar ao ponto de defender a “superioridade” das mulheres ou a “desnecessidade” dos homens. Somos todos iguais, e temos todos de assim ser tratados! Somos todos importantes!  

Na sua opinião, julga que as mulheres têm lutado para defender os seus direitos e combater as desigualdades? Ou ainda há muito mais para fazer? O quê? E os homens, qual tem sido o seu papel nesta luta para equilibrar o papel do homem e da mulher na sociedade?
As mulheres têm lutado neste sentido. E os homens também já o fazem! Trata-se de mentalizar a sociedade no geral, os dois géneros. Tanto há homens como mulheres que não acreditam na igualdade! E é esta parte da sociedade que tem de evoluir para o estádio seguinte!

Que mensagem gostaria de deixar à pessoas acerca da violência doméstica / no namoro e sobre a igualdade (ou desigualdade) de género, uma vez que esta última problemática está directamente ligada à violência doméstica?
Todas as vidas têm igual valor!
Todos os seres humanos têm direito à liberdade, à opinião, e, principalmente, à sua integridade física e psicológica!
Todos temos opiniões e todas são igualmente válidas!
 
(*) Jurista da UMAR Açores/ CIPA
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 29 de Agosto de 2012
 
 

Destaque do Mês de Julho de 2012

SARA SILVEIRA 
 

Sara Lima Silveira tem 34 anos e é licenciada em engenharia e gestão do ambiente com especialização em gestão e conservação da natureza. Possui mestrado em engenharia do ambiente e é, desde 2009, técnica superior na Secretaria Regional do Ambiente e Mar e presidente da direcção AMPA - IT Associação de mulheres de pescadores e armadores da ilha Terceira desde 1 de Junho de 2011.

O que a motivou a fazer parte da AMPA - IT?
O facto da associação ter passado por uma fase menos boa e de ter estado em perigo de ser encerrada, levou a que houvesse necessidade de eleger para os seus corpos constituintes pessoas com vontade e conhecimentos suficientes para reerguer a associação e realizar um trabalho que permitisse o lançamento e continuidade do projecto Pesca-Turismo e de outras formações que possam dar conhecimentos e ferramentas úteis de trabalho à comunidade onde está inserida. Pessoalmente o que me motivou a encabeçar esta lista como Presidente da Direcção da AMPA-IT foi uma grande vontade de fazer alguma diferença e ajudar de alguma forma a comunidade onde nasci, cresci e vivo até hoje.

Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Com certeza, o fomentar do diálogo e da discussão entre membros das várias associações e público em geral sobre questões pertinentes como a igualdade de direitos é sempre uma mais valia e uma contribuição para a abertura de todas as mentalidades.

Já trabalhou como o guarda-florestal de 2001 a 2009. Tendo em conta que é uma profissão associada maioritariamente ao masculino como foi a sua integração?
De início foi um pouco complicado fazia parte de um grupo restrito (onze mulheres guardas-florestais a nível nacional), trabalhei sempre com homens em diversas frentes de trabalho e muitas vezes em locais onde não existiam condições durante estes oito anos, no entanto foi das melhores experiências que tive, fiz grandes amizades, tive excelentes convívios e aprendi muita coisa a nível profissional com as dezenas de operários rurais com quem trabalhei. Consegui ultrapassar todas as dificuldades que me foram aparecendo através do diálogo e sendo uma pessoa muito activa, mas principalmente sendo humilde e sabendo ouvir e aceitar as opiniões/sugestões dos operários que comigo trabalhavam e que já tinham muitos anos de experiência. Criou-se um elo de respeito mútuo e de protecção, eles olhavam por mim e eu por eles.

Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
No início da minha carreira de guarda-florestal apareceram algumas situações em que senti discredibilidade pela minha opinião nas frentes de trabalho, mas a partir do momento em que mostrei ter o conhecimento teórico e prático das situações que apareciam e que as resolvia sem qualquer dificuldade, esta questão nunca mais se pôs até aos dias de hoje.

Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
Não. Se por acaso alguma vez alguém me discriminou por ser mulher passou-me ao lado, sempre fui uma pessoa muito determinada. Quando traço objectivos na minha vida procuro sempre cumpri-los da melhor forma, sem me interessar sobre o que as pessoas vão pensar ou se vou ser ou não discriminada por isso. Já fiz grandes sacrifícios pessoais, tirei uma licenciatura e mestrado enquanto trabalhava, cuidava dos afazeres de uma casa e criava um filho pequeno.

Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Há uns anos atrás a violência doméstica contra as mulheres era vista, infelizmente, com uma naturalidade assustadora, actualmente já é vista como deve ser vista: é um crime punido por lei. A sociedade já denúncia este tipo de violência e já apoia as vitimas, coisa que não acontecia no passado. A sociedade evoluiu imenso nos últimos anos, as pessoas estão mais conscientes do que se passa à volta delas, as mulheres em particular, são mais guerreiras lutam pelos seus direitos e deveres e têm objectivos definidos para as suas vidas.

Quais as perspectivas futuras para a AMPA-IT?
Gostaria que as mulheres ligadas directamente à pesca se unissem mais e participassem mais nesta associação, nomeadamente nas oportunidades de formação e que futuramente a liderassem com rigor e vontade de realizar um bom trabalho.
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 1 de Agosto de 2012
 

A afirmação das mulheres na pesca artesanal


As questões de género, as discriminações e desigualdades, afectam as mulheres nas diferentes áreas da sociedade. Esta noção tem levado a UMAR a desenvolver linhas de acção e projectos integrando a visão de género e a perspectiva feminista de “empoderamento” das mulheres, promovendo o seu reconhecimento e valorização, como no caso das mulheres na pesca.

A acção da UMAR nos Açores com vista a combater a invisibilidade e promover a igualdade e a valorização das mulheres na pesca, decorre desde o início de 2000, ganhando maior alcance na parceria com associações da pesca no projecto EQUAL Mudança de Maré. Confirmou-se que as mulheres estavam lá, na pesca, mas não eram visíveis. A sua actividade não era valorizada, nem reconhecida.

Outras parcerias têm vindo a acontecer como a parceria com Descalças Cooperativa Cultural, no âmbito da qual se têm desenvolvido actividades como o filme Mulheres na Pesca de Maria Simões, filmado em 2011, numa co-produção de Descalças e UMAR Açores, o qual tem vindo a ser apresentado em diferentes espaços na Região e no Continente Português.

Numa primeira fase, a acção centrou-se no combate à invisibilidade promovendo a valorização do papel das mulheres na pesca e a igualdade entre homens e mulheres, e de seguida na identificação da presença e papeis das mulheres na pesca, com vista ao reconhecimento da sua presença, particularmente na pesca artesanal. Neste contexto tem vindo a realizar-se trabalho em rede e de estudo sobre a situação das mulheres na pesca nos Açores – investigação acção participada - em que as mulheres são protagonistas activas.

As mulheres afirmam-se e, entretanto emergiram duas associações: Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da ilha Terceira (AMPA - IT) e a Ilhas em Rede - Associação de Mulheres na Pesca nos Açores, dando estrutura orgânica à afirmação e visibilidade das mulheres.

O intercâmbio de experiências e de conhecimentos tem sido uma componente forte desta actividade, com encontros inter-ilhas, acções formativas e workshops incluindo a realização de oficinas de Teatro do/a Oprimido/a  (TO) com a presença activa de mulheres da pesca.

O intercâmbio vai para além da região e fronteiras. A nível europeu: integração na Rede europeia de mulheres na pesca AKTEA e no Conselho Consultivo Regional das Águas Ocidentais Sul CCR-Sul.

Podemos assinalar, neste percurso, um conjunto de actividades - projectos e produtos da UMAR Açores e acontecimentos nesta área durante os últimos anos, com início em 2003 no Mudança de Maré até à presente data com o projecto Caminhos em Terra e no Mar, de cujo relatório final se destaca: “As mulheres, bem como o importante papel que estas desempenham no sector piscatório, são hoje bem mais (re)conhecidas dentro e fora de portas do que eram há uns anos atrás quando a UMAR Açores  resolveu trabalhar sobre a realidade e a consciência social relativamente à igualdade de direitos e oportunidades no sector. Sucedendo-se aos projectos “Mudança de Maré” e “As mulheres na Pesca dos Açores”, este “Caminhos em Terra e no Mar “, que agora chegou ao fim, poder-se-á considerar a 3ª etapa do desenvolvimento do movimento de valorização das mulheres na pesca nos Açores”.

Clarisse Canha - UMAR Açores
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 1 de Agosto de 2012