segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Destaque do mês de Setembro de 2010

DRA. CÁTIA OLIVEIRA

Formada na área de Psicologia pela Universidade Clássica de Lisboa, a Dra. Cátia Borges Jaques Branco Oliveira de 29 anos de idade, é actualmente, a psicóloga responsável pela valência da SCMPV - Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória Casa de Abrigo Solisvita.
Antes de integrar a Casa Abrigo, em Janeiro de 2006, a Dra. Cátia, realizou, no ano de 2004/2005, um estágio curricular no Hospital de Santa Maria em Lisboa, na área de psiquiatria, que perdurou “até surgir a oportunidade de regressar à ilha Terceira e vir trabalhar para a Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória”.
Nunca havia ponderado trabalhar na área da violência doméstica, pois não tinha muita experiência, “tive apenas um caso de violência doméstica durante o meu estágio curricular”, portanto trabalhar neste âmbito, revelou ser um “grande desafio pessoal e profissional”. No entanto, diz não notar qualquer diferença em trabalhar num mundo maioritariamente feminino, “é normal”.
Quando iniciou o seu trabalho, a principal preocupação foi desenvolver uma atitude empática com cada vítima, pois “percebi que, para as ajudar a definir um novo percurso pessoal, seria essencial ouvi-las e acreditar nas suas histórias de vida”. Considera portanto, que, para trabalhar nesta área, é necessário adquirir certas competências profissionais e pessoais para que se possa “auxiliar e transmitir valores como auto-estima e auto-confiança e fazê-las acreditar que têm força suficiente para contornar os acidentes de percurso que tiveram na sua vida”.
Relativamente ao trabalho realizado em rede, pelas diversas entidades parceiras, a Dra. Cátia salienta que tem havido esforço “na promoção da comunicação e na proximidade com outros serviços e instituições extra-rede, apesar de existir um longo caminho a percorrer”.
Em relação à sociedade em geral, ainda há um olhar de censura sobre as mulheres vítimas de violência doméstica, que são vistas, muitas vezes, como “coitadinhas e infelizes”. Apesar de existir um grande número de cidadãos com conhecimento destes casos, estes/as “tendem a justificar um comportamento injustificável do agressor”, pois “é mais fácil dizer que a senhora levou porque se “portou mal”, do que tentar ajudá-la a encontrar outra forma de vida”.
O facto de ser mulher, é visto por esta como uma mais-valia na realização das suas funções, visto que, “quebra à partida a barreira do género, promovendo-se desde já uma maior abertura e predisposição por parte destas mulheres em transmitir as suas histórias de vida”, havendo assim “uma espécie de identificação com a outra parte e de esperança de crença na sua vivência e não de descrédito nem de julgamento ou de marginalização”.
Para finalizar, esta ressalta a credibilidade deste projecto, pois “para se poder ajudar estas pessoas tem que se acreditar nelas e na sua capacidade de mudança”. “O que se pretende com este projecto Casa Abrigo, é que pelo menos um, dois, três dias possamos garantir que ninguém lhes vai fazer mal, e que se elas escolherem deixar a vida que tinham podem e conseguem ter uma vida sem violência”.

Carla Garcia

Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010.

UMAR Açores marca presença no Festival Azure 2010

Stand UMAR Açores / Cipa + APF – Festival Azure 2010

No âmbito do plano de actividades para o ano de 2010 a UMAR Açores / CIPA – Centro de Informação Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade em parceria com a APF – Associação para o Planemaneto da Família, marcou presença no Festival Azure 2010 que se realizou na zona de lazer de São Braz, Praia da Vitória, nos dias 26, 27 e 28 de Agosto.
Sensibilizar para a violência de género, promoção de uma sexualidade responsável, bem como o incentivo à não descriminação em função da orientação sexual e deficiência, foram os principais temas expostos no stand das Associações.

Miguel Pinheiro

Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010.

Livros Publicados

A UMAR (continental) – União de Mulheres Alternativa e Resposta – e a UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres – tem editado algumas publicações sobre as mulheres, em várias áreas da sociedade. Assim sendo, temos disponíveis para venda as seguintes publicações:
• Inclusão Percursos para a Igualdade – IPI – Uma experiência de valorização em Rabo de Peixe e São Mateus. Mulheres. Seu papel e saberes nas comunidades piscatórias, nos Açores.
• Estamos cá. Existimos. As mulheres na pesca nos Açores.
• As mulheres e a República.
• A mulher e o trabalho nos Açores e nas Comunidades. Volume V – História e Sociedade.
• A mulher e o trabalho nos Açores e nas Comunidades. Volume VI – Empreendedorismo e Diversidade.
Temos também disponíveis para consulta e empréstimo, muitas outras publicações que fazem parte do Centro de Documentação do CIPA (Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade). Faça-nos uma visita!





Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crescer Sem Discriminar

Novo programa da UMAR Açores



Crescer Sem Discriminar, é o novo programa de intervenção / sensibilização para o ano lectivo de 2010/2011 da UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres, enquanto entidade gestora do CIPA – Centro de Informação Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade.
Orientado para diferentes contextos desde o ensino básico ao secundário, passando pelo técnico profissional, este pretende sensibilizar o/as aluno/as e formando/as para a não discriminação em função da deficiência, etnia/cultura, género e orientação sexual.
Depois da experiência de sucesso com o programa de Educação Afectivo Sexual em parceria com a Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo, a Associação pretende assim inovar o trabalho que tem vindo a fazer junto de diferentes instituições ao longo dos últimos quatro anos lectivos.
Planeado para quatro sessões de 90 minutos cada, o programa poderá ser realizado parcial ou integralmente em função das necessidades das instituições que o solicitem.
Para saber mais informações pode contactar a UMAR Açores no Edifício da Recreio dos Artistas na Rua da Rosa 1º Andar em Angra do Heroísmo ou através do telefone 295 217 860 ou e-mail umarterceira@gmail.com.

Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Destaque do mês de Agosto de 2010

PROFESSORA TERESA VALADÃO

Licenciada em História e Filosofia via ensino, com Formação em Desenvolvimento Pessoal e Social e Mestrado em Estudos sobre as Mulheres e coordenadora do Clube de Teatro Orpheu, a Professora Maria Teresa Valadão Caldeira Martins, de 44 anos de idade, em parceria com a UMAR – Açores e com a Associação Cultural Burra de Milho foi convidada, pela professora Tânia Fonseca, a desenvolver uma peça de teatro, subordinada ao tema da violência doméstica, no namoro e nas escolas. Intitulada “Medo de Mim… Pavor dos Outros”, foi dramatizada em algumas freguesias da Ilha Terceira e revelou ser um sucesso.
A peça procurou sensibilizar o público para um problema social grave, em que cada pessoa tem o direito e o dever de ter uma atitude de prevenção e denúncia. Segundo a autora da peça, cada vez mais as pessoas têm desenvolvido uma maior consciência sobre a questão da violência.
Olhando para trás, aceitar este convite foi para a Professora Maria Teresa como um “desafio, muito diferente do que tínhamos feito até então”. Foi o “embarcar numa aventura que revelou ser muito agradável”. Para além de que o trabalho em parceria “foi outro desafio”.
Define este trabalho como algo “bastante complexo”, pois “trabalhar o tema da violência é algo extremamente vasto”. Apresentar um trabalho deste género ao público em geral, requereu alguns cuidados nomeadamente, no que respeita à linguagem, à apresentação das personagens e à mensagem que se pretendia passar às pessoas. “A linguagem teve de ser bastante acessível, e a peça necessitou de um fio condutor em que cada personagem tinha que embarcar uma personagem típica, um padrão típico, um perfil típico, tanto de vítima como de agressor, porque interessava fazer as duas perspectivas”. “Nós queríamos que as pessoas vissem e sentissem e acima de tudo, que reflectissem sobre todo o ciclo de violência”. “Queríamos que fosse transmitida uma grande mensagem”. “Foi muito complicado pôr tanto sentimento em cena”, mas foi um “desafio incrível” e “os alunos fizeram um trabalho extraordinário”.
Pode-se dizer que esta peça foi realmente capaz de captar a atenção dos espectadores e levar à reflexão. Segundo a Professora, no final de cada peça, era abordada por espectadores que lhe diziam terem-se identificado com algumas das personagens. Outras confessaram-lhe “eu estava a sentir e a viver cada momento daquela peça como se fosse a minha própria vida”. Recebeu um feedback muito positivo, que foi de encontro ao objectivo da peça. Sentiu que este trabalho “não tinha sido em vão”, pois “com situações destas tem de se ser muito concreto e muito fiel àquilo que se transmite”.
Relativamente a estas problemáticas da violência, esta pensa que quando se trata de denunciar estes casos “torna-se complicado, porque ainda há muito medo”, Segundo a Professora, muitas vezes estas situações ocorrem junto de casais que já convivem há muitos anos. No entanto, acha que neste momento “as pessoas estão a ficar mais despertas”. Para tal também tem contribuído o trabalho e a ajuda das várias associações e dos meios de comunicação social. O aumento das denúncias é, “por um lado lamentável, porque significa que o número é considerável, mas por outro lado significa que a pessoa começa a ganhar mais coragem para transmitir o que se passou”. Do ponto de vista da entrevistada, é notório nas vítimas de violência uma maior capacidade para se afirmarem, revelando-se menos “alheias às situações” que vivenciam.
Tratando-se a nossa Associação, de uma associação feminista, tivemos curiosidade em saber um pouco sobre o seu Mestrado em Estudos sobre as Mulheres. Justificou a sua escolha explicando que achou “extremamente inovador quando vi o perfil das disciplinas” e “tinha um corpo fabuloso de docentes”. Durante dois anos a professora Teresa, deslocou-se todas as semanas a Lisboa para fazer o seu mestrado, pois metade da semana dava aulas na Terceira. Foi um enorme esforço, mas confessa que valeu a pena todo o seu sacrifício, pois “foi um grande desafio que eu gostei”, “trabalhámos de tudo, desde a época pré-clássica, até mesmo à actual, abordando os vários tipos de violência (…) as várias formas de pensamento sobre a mulher, as conquistas, a evolução, o que se foi ou não fazendo, foi muito interessante”.
Devido à sua formação e conhecimento relativamente a toda a evolução da mulher até aos dias de hoje, bem como a sua experiência, observa que actualmente existe “mais algum posicionamento” da mulher na sociedade, mas ainda “numa luta muito grande”. “Vemos que a nível do mercado de trabalho (…) a mulher, indiscutivelmente, ganhou muito, surgiram novas profissões que começa a exercer, mas é uma luta contínua e constante que tem ainda uma grande batalha pela frente”.
Em relação à sociedade em geral, considera que esta encara a mulher de uma forma “expectante sobre o que é que irá fazer, sobre o que é que é capaz de fazer e como é que irá fazer”. No entanto, “quando vêem, as provas de que é capaz, a sociedade aí é impecável”.
Esta pensa, que não é por medidas radicais nem extremistas que se consegue alcançar os direitos, como aconteceu em muitos movimentos feministas ao longo dos séculos. “Acho que é pela qualidade do que se faz, essencialmente pelo papel de intervenção correcto, eficaz e dinâmico que se chega a alguma coisa”. Defende outras formas de conquista de direitos que passam pelo “diálogo, a palavra e a intervenção através de projectos concretos, eficazes e com qualidade ”.
A atitude das mulheres perante uma situação de discriminação revela ainda, na sua opinião, dificuldade em defenderem e lutarem pelos seus direitos. “Às vezes é difícil tomar a iniciativa”, mas “hoje em dia temos os programas EQUAL que já começam a lutar por essas questões de igualdade de expressividade da mulher”.
A mudança de mentalidades é um processo demoroso, principalmente no que respeita a questões relacionadas com a emancipação do sexo feminino. De acordo com a nossa entrevistada, “nós sabemos que a economia sofre transformações mais rápidas, mas as mentalidades demoram muitos anos, ou séculos a transformarem-se”.
Finalizou-se esta interessante conversa questionando a nossa entrevistada sobre a mensagem que gostaria de deixar aos nossos leitores/as sobre a questão da violência. Para esta é necessário “começar primeiro por perceber bem a sociedade e analisar as suas problemáticas. Olhar para as situações e perceber quem as vive, pois são condições extremamente graves e aflitivas, das quais se torna muito difícil, para as próprias pessoas, de saírem. São pessoas que necessitam de facto de uma grande ajuda, de uma grande compreensão e que lhes seja restituída a sua dignidade". Por fim, elogia o trabalho que é feito por todas as associações que, na sua opinião, actuam de uma forma “extremamente activa e dinâmica”.

Carla Garcia


Publicado na página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 1 de Setembro de 2010

PODER MUDAR

(Imagem retirada de http://www.freewebs.com/)



Durante, sensivelmente, 3 meses, na UMAR – Açores, Delegação da Terceira, decorreu o Programa de Intervenção em Grupo para Mulheres Sobreviventes de Violência Doméstica, intitulado “Poder Mudar”. O mesmo, constituído por 14 sessões, realizadas semanalmente, com duração variável de 2horas, resultou da colaboração entre feministas e profissionais de 5 países (Estónia, Portugal, Itália, Reino Unido e Hungria) que participaram no Projecto Daphne “Survivors speak up for their dignity – supporting victims and survivors of domestic violence, 2007 – 2009”, promovido pela Comissão Europeia. Tendo sido adaptado pelas técnicas da UMAR, este Programa visou, sobretudo, a promoção da auto – estima das participantes, assumindo que as mesmas trabalhando em conjunto num espaço seguro, amigável e livre de juízos de valor, mudam as suas vidas para melhor.
Os assuntos abordados e trabalhados centraram-se, principalmente, nos direitos, necessidades, estereótipos de género, limites, emoções e assertividade.
Entre entradas e saídas, o grupo contou com a presença comprometida de mulheres, surpreendentemente, todas na casa dos 50 anos de idade e casadas com parceiros abusivos aproximadamente 3 décadas.
O projecto de vida destas mulheres incluía a conjugalidade e a maternidade como principais fontes de realização pessoal; sonho comummente partilhado pelo género feminino e promovido pelas sociedades judaico – cristãs mais devotas. Após investirem “mundos e fundos” na relação e darem literalmente tudo de si, chegou o dia em que se colocaram em 1º lugar e decidiram, com firmeza, começar a calcetar a sua própria estrada, processo extremamente difícil, sobretudo para uma mulher, dado que calcetar não é ofício associado ao género feminino, o que, por sua vez, poderá atrair inúmeros olhares menos empáticos.
Durante anos estas mulheres foram tratadas como seres de 2ª categoria, tanto familiar como socialmente, disseram-lhes que não valiam nada, que eram incapazes, que eram culpadas por todo o mal que existe no planeta, espancaram-lhes o corpo e a mente; inevitavelmente a sua auto – estima foi mutilada. Mas, como verdadeiras sobreviventes que são, cá estão, a lutar por uma vida mais digna.
Na primeira pessoa referem que a frequência deste programa teve um efeito bastante positivo sobre si: “aprendi a ser eu, como sou e não como os outros querem que eu seja”, “aprendi a gostar mais de mim, antes sentia-me como um trapo, um objecto que era usado e deitado fora, agora já não… agora já sou capaz de dizer «Ei! Eu também sou gente».”
A necessidade de encontrar respostas às questões: “Porquê a mim? O que fiz para merecer isto?” infelizmente não pôde ser satisfeita, mas sim apaziguada com a sabedoria e o amadurecimento que o sofrimento traz. Realmente não é possível encontrar resposta porque nada justifica a violência, apenas se pode recorrer à experiência como um dos mais fortes aliados para não se ver aprisionada na espiral dos maus-tratos novamente.
A partilha das suas histórias de vida com outras mulheres que já passaram por situações semelhantes revelou-se catártica e terapêutica por si só, ajudou-as a sentirem-se compreendidas e a ultrapassar a sensação de “caso único” ou de que teriam alguma perturbação, quando na verdade se tratam de pessoas perfeitamente normais que passaram por situações de vida anormais, com todas as consequências que isso pode acarretar.
Relativamente às mudanças percepcionadas, de um modo geral, todas se sentem mais confiantes: “Tenho que defender o meu «eu»”, “não posso pôr sempre os outros em primeiro lugar”, “agora sei que tenho de defender os meus direitos”.
Talvez não estejam completamente ultrapassados os sentimentos de culpa, vergonha, raiva, tristeza, medo… mas estas “mulheres-coragem” caminham no sentido da progressiva recuperação da sua auto-estima. Visivelmente mais “empoderadas”, conhecedoras dos seus direitos, das suas necessidades, dos seus limites, das suas emoções e também de formas mais assertivas de ser e agir, manifestam um lampejo de esperança: “aprendi que há uma vida para a frente, tenho que procurá-la”.

Rita Ferreira / Raquel Fontes


Publicado na página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 1 de Setembro de 2010