sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Destaque do Mês de Janeiro de 2010

Dra. Paulina Oliveira

“A Igualdade de Oportunidades não significa igualizar as pessoas, ou seja apagar as diferenças e as identidades, mas antes proporcionar condições para que cada pessoa possa desenvolver o seu talento e as suas capacidades”

In Igualdade de Oportunidades no Trabalho e no Emprego; Texto: Maria Amélia Paiva pp.34


Sendo a UMAR - Açores uma associação que defende os direitos da mulher na lei e na vida, bem como, a promoção da igualdade de género, esta procura que homens e mulheres beneficiem das mesmas oportunidades, promovendo assim, uma sociedade mais justa. Embora a nossa sociedade tenha evoluído muito em termos de mentalidade, a luta para a igualdade de género continua a ser diária e muitas mulheres ainda se sentem vítimas de um preconceito sexista que afecta o acesso a profissões, ainda consideradas por muitos, como sendo destinadas aos homens.
A aceitação crescente, por parte da sociedade, de que no mundo do trabalho, não existem profissões de domínio masculino, permite que muitas mulheres possam triunfar em várias áreas profissionais, como foi o caso da Dra. Paulina Oliveira de 56 anos, natural da freguesia de Vila Nova na Praia da Vitória, licenciada em Direito.
Tendo sido influenciada, desde cedo, pelo Advogado, Dr. Valadão, devido “ao que ele transmitia”, a seguir a carreira de advocacia, a Dra. Paulina Oliveira começou a exercer a sua profissão aos 27 anos de idade. Foi a primeira advogada a exercer na Ilha Terceira, numa altura em que esta profissão, na ilha, era apenas exercida por homens.
Não fazendo nenhuma distinção entre trabalhar com homens e mulheres, afirma que, desde o início, teve sempre ajuda de todos os seus colegas. Confessa nunca ter sentido que houvesse “o mínimo de problemas ou que ficasse prejudicada pelo facto de ser mulher”.
Apesar de ter conhecimento de que muitas mulheres vivenciavam esse tipo de situações no seu local de trabalho, nunca compreendeu muito bem, porque lhe perguntavam como era trabalhar num mundo maioritariamente de homens. Para ela era uma situação natural e nunca sentiu “qualquer tipo de discriminação pelo facto de ser mulher”. Na sua perspectiva, manteve sempre uma boa relação com os seus colegas e supõe até que, nos primeiros tempos, estes viam-na como “uma irmã que é preciso ajudar”.
No exercício da sua profissão nunca sentiu que não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher, na verdade, “via que as pessoas recorriam a mim, como recorriam aos meus colegas e actualmente também”.
Como nunca sentiu qualquer tipo de discriminação não pode afirmar que nos dias de hoje o acesso a esta profissão seja mais fácil para uma mulher, mas na sua opinião, considera que a sociedade actual encara a mulher nesta profissão como qualquer outra mulher em outra função.
Em tom de curiosidade, e uma vez que a UMAR também intervém ao nível da violência doméstica, questionámos a Dra. Paulina se alguma vez havia trabalhado num caso desta natureza. A sua resposta foi negativa. Nas suas palavras, seria necessário muita força, por parte da mulher, para prosseguir com este tipo de queixa. Para além disso, estas nunca chegariam a julgamento, visto que na altura este tipo de situações, não era considerado crime público. Todavia, com a alteração que a lei sofreu, “agora as coisas tem de ir até ao fim e de certeza absoluta que deverá haver uma diminuição acentuadíssima da violência doméstica (…) isso foi das coisas muito boas que apareceu na nova lei”. No entanto, viveu intensamente, durante muitos meses, um caso de maus-tratos, em âmbito de instituição, que a marcou profundamente. Eram pessoas conhecidas e amigas que estavam a ser acusadas. Para a Dra. Paulina, esta situação não tinha fundamento e afirma que para si “a liberdade é a pedra fundamental da vida”.
Passados 30 anos de carreira, a Doutora Paulina considera-se uma privilegiada por nunca se ter sentido discriminada, referindo, “só tenho a agradecer aos meus colegas. Tive na verdade muita sorte”
Histórias de sucesso são o que todos nós procuramos. No entanto, nem sempre encontramos. Cabe a cada cidadão/ã, contribuir para que testemunhos deste tipo sejam uma realidade e não apenas um desejo para muitas mulheres que, diariamente, se vêem confrontadas com o preconceito e a discriminação.

Carla Garcia

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 29 de Janeiro de 2010

As diferenças de género na ocupação do tempo

Fotografia: www.gettyimages.pt

As diferenças de Género na Ocupação do tempo em casais profissionalmente activos, residentes em Angra do Heroísmo é o título de um trabalho de investigação desenvolvido pela UMAR Açores, delegação da Ilha Terceira, no âmbito do CIPA – Centro de Informação Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade.
O universo deste estudo foi constituído por indivíduos profissionalmente activos, casados ou que viviam em união de facto e residentes nas cinco freguesias que fazem parte da cidade de Angra do Heroísmo: São Pedro; Santa Luzia; Sé; Conceição e São Bento. Constituíram a amostra 2,5% do universo seleccionado (166 inquirido/as – 83 casais), valor considerado representativo quando comparado com estudos semelhantes.
Através da análise aos inquéritos realizados, constatou-se que o crescimento da expressão feminina no mercado de trabalho minorou o problema da dependência financeira relativamente aos homens, no entanto, introduziu ou agravou um outro conjunto de problemas que se prendem com a gestão do tempo, num quotidiano repartido entre tarefas e responsabilidades profissionais, domésticas, familiares, que constituem uma múltipla jornada de trabalho
Da análise à ocupação do tempo, no seio da família e numa perspectiva de género, constatou-se a crescente visibilidade dos modos diferenciais como homens e mulheres afectam os seus tempos às múltiplas esferas da vida em sociedade. Surge, de facto, plenamente evidenciada uma significativa diferença entre os padrões de ocupação do tempo (muito particularmente quanto ao tempo afecto ao trabalho doméstico) entre mulheres e homens, independentemente do estatuto profissional da mulher.
Os elementos disponíveis sobre os padrões de afectação do tempo de mulheres e homens permitem, para além da caracterização da situação actual, identificar alguns elementos de tendência. A este nível, parecem configurar-se indícios de mudança de sinal positivo, tanto ao nível das representações como das práticas, no sentido de uma maior repartição de tarefas e consequente melhor organização de tempos individuais.
Esta é uma tendência que se começa a evidenciar, ainda que de forma mais ou menos ténue e imprecisa, ao nível do trabalho doméstico (sobretudo em alguns tipos específicos de tarefas e entre determinadas categorias da população). Há, naturalmente, que ter em conta que o trabalho doméstico é também, uma realidade em transformação e que a própria atitude em relação a ele se tem vindo a alterar. No entanto, e apesar da influência tecnológica crescente nas actividades domésticas, não parece existir evidência empírica quanto ao trabalho doméstico ser uma actividade em declínio acelerado.
Apesar de se advogar a igualdade, continuamos a assistir na prática, ao desenvolvimento de expectativas diferenciadas relativamente a homens e a mulheres. Delas se espera, que mesmo trabalhando no exterior, se ocupem fundamentalmente da casa e dos cuidados com os filhos, enquanto se considera natural que os homens obtenham melhores salários, para os mesmos níveis de instrução e não se tem expectativa do seu grande empenhamento na família. De resto, é fácil perceber estas assimetrias se se conjugar a equação entre família e trabalho no masculino. Ninguém tende a confrontar um homem impondo-lhe directa ou indirectamente a opção entre trabalho e família, sabendo-se que o desejo de continuidade e de ter filhos está presente na larga maioria dos homens, tanto quanto nas mulheres.
Embora não possam ser ignoradas mudanças de atitude e até de práticas nas gerações mais novas, tanto de mulheres como de homens, a verdade é que, por um lado, por vezes as mensagens são contraditórias e, por outro, não é raro que à vontade de maior participação na família se imponham exigências de empenhamento profissional que deixam pouca margem de manobra aos indivíduos.
O que resulta destas circunstâncias concretas e destes sistemas de expectativas fica patente através do estudo e remete para uma sobrecarga de trabalho no feminino. E se ao cansaço e trabalho excessivo se acrescenta também, no caso das mulheres, “culpabilidade”, como se constatou através dos comentários efectuados no final dos questionários, esta associação surge de igual modo no masculino e parece nítida quando são os homens a considerar que o/as filho/as merecem mais atenção do que aquela que lhes dão.
Assim sendo, embora – ou talvez porque – as mulheres ainda assumem mais as responsabilidades pela casa e pelos filhos, o alargamento da questão da conciliação entre trabalho e vida familiar ao problema da igualdade enraíza-se igualmente na discussão do papel dos homens enquanto pais. Esta discussão tem-se tornado cada vez mais comum em Portugal.
Muito embora lentamente, verifica-se um processo de mudança relativamente à partilha das tarefas domésticas e dos cuidados com os filhos, havendo a tendência para os homens participarem mais nestas actividades.
A experiência de outros países, designadamente escandinavos, mostra que pode haver modalidades de repartição entre trabalho e família mais equilibradas quando se tem subjacente uma lógica em que surgem articulados três tipos de direitos: os direitos das mulheres ao trabalho e à família, os direitos dos homens ao trabalho e à família e os direitos das crianças como responsabilidade que deve implicar os pais e toda a sociedade. Perspectivas deste tipo permitem outra conclusão: em Portugal, as políticas de igualdade entre homens e mulheres podem ser melhores amigas da família.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 29 de Janeiro de 2010

Destaque do Mês de Novembro de 2009

Maria Clara Dias Costa

Natural da freguesia do Raminho, Maria Clara Dias Costa, de 13 anos, começa por nos recordar “Turlu”, nome artístico de Maria Angelina de Sousa, que foi até hoje, a mais reconhecida mulher Cantadeira ao Desafio na Ilha Terceira. Entusiasmada com este exemplo, a jovem comparte as suas andanças pelo mundo do desafio.
Sensivelmente à dois anos, durante o Pezinho Regional, os Mestres do Improviso, como é tradição, bateram-lhe à porta, para dar graças ao Criador da casa, neste caso ao seu pai, pelo contributo ao Divino Espírito Santo. Surpreendidos ficaram, quando Maria Clara, na altura com apenas 11 anos de idade, respondeu-lhes ao desafio. Animados por estas duas cantigas, convidaram-na posteriormente, com o consentimento dos pais, a participar num Desafio que iria decorrer numa festa de Natal. No entanto Maria Clara considera que “as portas das cantigas ao desafio se abriram” quando António Mota e Marcelo Dias a convidaram a participar na Festa do Cantador, aonde diria uma cantiga. Pensou ela “estarão lá 10 ou 9 cantadores, cada um dirá a sua cantiga e eu terei tempo para pensar na minha”, acabando por aceitar o desafio. Durante o almoço de domingo, antes da actuação, subitamente, António Mota subiu ao palco e propôs à jovem um desafio: “Não sei o que me passou pela cabeça, levantei-me e fui, (…), e graças a Deus, não sei como, não me enrasquei em nenhuma cantiga, conseguindo responder a tudo”, conta Maria Clara. Convictamente afirma a sua paixão pelo palco, a multiplicidade de sensações que este oferece, as palmas recebidas, os risos do público e o “brilho no olhar das pessoas”, “não há sensação melhor”, acrescenta.
Mais a sério a sua primeira actuação foi nas Festas do Raminho no dia 1 de Setembro 2009 com o Cantador Marcelo Dias, “mas não correu assim tão bem”, comparativamente com a experiência anteriormente referida. “Cada desafio é um desafio, não há um desafio igual, nunca sabemos que tema ou assunto vamos cantar”. A tarefa árdua desta arte é, por exemplo, quando o outro cantador ”está a cantar os primeiros dois versos de um tema, e começamos a pensar numa cantiga para esse tema; depois nos últimos dois versos ele faz uma pergunta e nós temos que esquecer completamente aquilo que tínhamos pensado e responder”, sendo que, temos aproximadamente três segundos, tendo em conta o acorde da viola, antes de responder.
Considera que o facto de ser a única jovem mulher entre tantos Cantadores até é “original”; “é como se fossemos uma grande família, tentamos sempre ajudar-nos uns aos outros (…) são todos fantásticos”.
Maria Clara aprecia e escreve poesia, o que lhe ajuda a melhorar, cada vez mais, esta arte de rimar, assim como as aulas de Português. Enfatiza que tem sorte por poder estudar visto que a maioria dos Cantadores não teve essa oportunidade. “A juventude hoje em dia não se interessa por estas coisas”, embora os seus amigos/as achem “piada” à amiga Cantadora. Maria Clara apenas conhece um outro jovem jorgense de 18 anos que se interessa pelo improviso. Ciente diz: “não quero deixar morrer a tradição, (…), se a juventude não se interessar, muitas tradições vão-se perder, (…), deve-se incentivar não só as mulheres mas os mais novos”, e oferece-nos as seguintes quadras:

Não canto apenas por cantar
Tal como alguns conseguem ver
Eu faço-o por disto muito gostar
E para tentar a tradição manter.

Há anos morreu Maria Angelina
A única que se atreveu aos palcos entrar
Agora, apareceu esta menina
Para fazer com que o nome das mulheres volte a brilhar

Para fazer um desafio, há que saber!
E o palco em nossas vidas, é sempre tão bom
Mas o desafio, não se ensina, nem se pode aprender
Porque é algo que nasce connosco, considera-se um dom!

Da Terceira eu sou filha
Até nem por muitas razões
Mas o que seria da nossa ilha
Sem as suas divinas tradições?

Oh bela rima, espero que sirvas!
Para os nossos jovens alertar
Se as tradições querem manter vivas,
Por elas têm que se interessar!

E sem muito mais a adiantar
Esta quadra, aqui fica
Agradecimentos dou ao Diário Insular
E a toda a sua equipa.

O/A leitor/a interessado/a poderá encontrar um conjunto de compilações de Canções ao Desafio, entrevistas, entre outras imagens, com Maria Clara Dias da Silva no espaço comercial Sapateia em Angra do Heroísmo.

Carla Garcia
Raquel Fontes

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 4 de Dezembro de 2009

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres - 25 de Novembro

Proclamado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1999, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres assinala-se a 25 de Novembro. A data foi definida no I Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado em 1981, em Bogotá na Colômbia com o objectivo de lembrar as irmãs Mirabal (Pátria, Minerva e Maria Teresa), assassinadas pela ditadura de Leônidas Trujillo na República Dominicana (1930-1961). As irmãs Mirabal são também conhecidas como as “Mariposas”, por ter sido esse o nome secreto escolhido por Minerva nas suas actividades políticas clandestinas contra o regime. Conta a história que quatro irmãs, Pátria, Minerva, Maria Teresa e Dedé Mirabal, da República Dominicana (as três primeiras conhecidas pelas suas actividades políticas clandestinas contra a tirania do governo Trujilista), foram assassinadas a 25 de Novembro de 1960, quando regressavam de carro de uma visita aos seus maridos, entretanto detidos pelo regime em Puerto Plata. Mandadas parar em "La Cumbre" por agentes dos serviços secretos militares de Trujilo, foram torturadas e assassinadas, separadamente para assim não sentirem a execução das outras. Os agentes tentaram forjar um suposto acidente de viação que todo/as sabiam não ter existido. Este episódio foi o início da decadência do regime de Trujillo.
Assim em 1981, as feministas reunidas no I Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, decidiram instaurar o 25 de Novembro de cada ano como Dia da Não Violência à Mulher e como data de activismo, de sensibilização e de procura de soluções para um grave problema que afecta as Mulheres por todo o mundo. Desde então o dia tem servido para denunciar a violência praticada contra as Mulheres, que, pelos dados vindos a público recentemente, coloca a humanidade perante um dos problemas mais dramáticos de desrespeito pelos mais elementares direitos humanos.
A violência contra as Mulheres, considerada por muito/as estudioso/as como sendo de índole cultural, tem causas profundas na degradação da vida familiar e está directamente relacionada com as dificuldades crescentes da vida económica, social e profissional das famílias que enfrentam situações dramáticas de desemprego, pobreza e ausência de perspectivas de vida. Embora a violência conjugal seja a expressão de violência mais frequente e brutal a nível mundial, é importante denunciar e combater outras formas de abuso, nomeadamente, a violência social que, fora do ambiente doméstico, submete as Mulheres a constrangimentos, a discriminações, a desigualdades de oportunidades, de acesso ao emprego ou que as atira para a prostituição, tornando-as presas fáceis dos traficantes da indústria do sexo.
Outra forma de violência reside nos locais de trabalho, onde não são praticados salários iguais para trabalho de valor igual, onde o assédio sexual é uma prática muitas vezes silenciada, onde os despedimentos de Mulheres grávidas são feitos à revelia da legislação em vigor ou onde as Mulheres tem dificuldades de acesso aos cargos de tomada de decisão e ainda, em algumas profissões, a exigência “de uma boa aparência” é critério para discriminação indirecta.
Por fim a violência étnica, que penaliza as Mulheres imigrantes, em função da cor da pele, da etnia, do grupo de pertença, marginalizando milhares de Mulheres que, de forma cruel, são estereotipadas como “seres inferiores”, em função dos padrões da cultura dominante e do poder autoritário e intolerante.
Urge apelar à sociedade para que se mobilize contra todas estas formas de violência, denunciando-as…

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 4 de Dezembro de 2009

“À Prova de Fogo e de Bala” de Andrea Inocêncio



Inaugurada no dia 6 de Novembro, a segunda parte da exposição de fotopintura de Andrea Inocêncio, fica na Casa do Sal – Oficina de Angra, até ao dia 2 de Dezembro. Pode ser vista às Segundas, Terças, Quintas e Sábados entre as 15h00 e as 19h00.
Estas obras são resultado de um projecto concretizado em conjunto com a UMAR Açores e com as senhoras da AMPA – IT (Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da Ilha Terceira), com o apoio da Direcção Regional da Cultura.
“À Prova de Fogo e de Bala” foi o título dado pela artista ao projecto que incluiu um workshop de criação artística, onde as participantes criaram a imagem de uma “lutadora”, através da reconstrução do conceito de “super-mulher” da Banda-Desenhada. O mesmo projecto decorreu em São Miguel, tendo como participantes seis mulheres de diferentes nacionalidades, imigrantes nos Açores.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 4 de Dezembro de 2009

Na primeira pessoa

Recente estudo realizado por Cristina Canavarro, “Gravidez e Maternidade na Adolescência”, conclui que na Região Autónoma dos Açores a percentagem de mães adolescentes é duas vezes superior à média nacional.
Perante esta realidade alarmante, a UMAR – Açores considerou pertinente dar a conhecer na primeira pessoa uma das muitas histórias existentes de uma jovem que foi mãe aos 16 anos, Tânia Rocha.
Esta considera que a sua adolescência decorreu sem dificuldades; interessava-se pela escola, era sociável, namorava, as relações familiares eram estáveis, tinha inúmeros sonhos, entre eles ser professora de português e casar.
Engravidou devido a uma relação sexual desprotegida, que hoje assume como tendo sido um comportamento irresponsável, uma vez que além da gravidez poderia ter sido contagiada por uma doença sexualmente transmissível.
Apesar da sua tenra idade, Tânia aceitou bem a gravidez atribuindo esta reacção à inconsciência própria da idade, uma vez que desconhecia o leque de responsabilidades parentais. Os seus familiares e companheiro reagiram positivamente dando todo o apoio de que esta necessitava, assim como também, nunca se sentiu discriminada pelo facto de ser uma jovem grávida, considerando-se assim uma excepção.
Toda esta situação gerou uma série de mudanças a nível social, pessoal e profissional. Apesar de ter concluído o 12º ano, abandonou o sonho de ser professora, afastou-se “involuntariamente” do grupo de pares, uma vez que o papel de mãe passou a ser prioridade, tornando-se rapidamente adulta.
Tendo em conta a sua experiência, Tânia afirma que deveria existir mais informação e prevenção no âmbito da gravidez na adolescência e das DST´s nas escolas, uma vez que “se tivesse tido este tipo de aulas e oportunidade de falar mais abertamente, talvez tivesse feito a diferença, pois é importante o diálogo e falar-se de pormenores que por vezes escapam ao senso comum (…). Com certeza teria sido diferente, provavelmente teria tomado mais precauções”, no entanto esta acrescenta que não mudaria nada na sua vida. Também considera que os pais têm um papel fulcral na educação sexual dos filhos, embora por vezes sintam dificuldades em admitir o seu crescimento. Nas palavras de Tânia “cabe aos pais pôr o assunto na mesa, para abrir caminho caso os filhos queiram falar”.
Por fim, enfatiza o papel dos técnicos/as de saúde, que são essenciais na prevenção e acompanhamento destes casos, contudo considera que estes devem ter em atenção os juízos de valor que poderão emitir, que por sua vez, podem afectar negativamente a auto-estima das adolescentes.

“(…) a Educação Sexual não ensina a ter relações sexuais, mas antes a ter relações responsáveis, o que significa muitas vezes adiar a sexualidade.”
Daniel Sampaio

Para mais informações sobre este tema, sugerimos a consulta dos seguintes sites:
http://familia.sapo.pt/adolescente/sexualidade/guia_para_pais

http://www.apf.pt/ (Associação para o Planeamento da Família)

Carla Garcia
Raquel Fontes

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 23 de Outubro de 2009

Workshop de Teatro da Oprimida / Teatro Fórum

Workshop de Teatro da Oprimida


Teatro Fórum


Entre os dias 3 e 6 de Outubro, teve lugar, no Edifício da Recreio dos Artistas, um Workshop de Teatro d@ Oprimid@, integrado no Projecto “Humanizar a Humanidade” da UMAR – Açores. O teatro d@ Oprimid@ é um instrumento de Transformação Social e de Resolução de Opressões, como as Desigualdades de Género, criado por Augusto Boal.
O Workshop foi realizado pelo formador/ curinga José Soeiro e dinamizado por Judite Fernandes, da cooperativa cultural “As Descalças”. Contou com a participação de quinze pessoas, com idades compreendidas entre 15 e 55 anos.
Durante o Workshop foram realizadas diversas dinâmicas de grupo de cariz lúdico, que permitiram aos/ás participantes uma maior abertura e descontracção, levando à partilha de momentos pessoais de opressão que já viveram. Foram abordadas várias situações problemáticas, emergindo destas três temas escolhidos pelas pessoas que participaram: “relações familiares”, “relações amorosas” e “relações entre pares”. A partir destes assuntos, formaram-se três grupos distintos em que cada qual criou uma história para representar no Teatro Fórum. O objectivo desta forma de Teatro é transformar a cena e a realidade apresentada, ou seja, procurar soluções para resolver os dilemas, problemas e/ou opressões apresentadas.
Desta forma, foram apresentadas três peças, tendo o público presente eleito a sua preferida para ser discutida/solucionada a problemática em questão, que neste caso foi as “relações amorosas”. Estiveram presentes cerca de meia centena de pessoas que aderiram com entusiasmo, tendo a oportunidade não só de verbalizar a sua opinião, mas também de a demonstrar, tornando-se assim espect-actores e espect-actrizes, ou seja, um público interveniente na peça.
Podemos concluir que o Teatro Fórum realizado foi de encontro aos objectivos iniciais, que eram os de sensibilizar a comunidade para situações de opressão e podemos afirmar que o público sentiu a urgência da acção para a mudança.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 23 de Outubro de 2009

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro”

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 23 de Outubro de 2009

Destaque do Mês de Setembro de 2009

D. Carina Martín

Carina Mariela Martín nasceu no ano de 1972, na província de Santa Fé – Argentina, descendente de Terceirenses (família materna) e de Italianos e Espanhóis (família paterna).
A Carina chegou à Terceira em 1991, tendo na altura 19 anos, para trás deixou um curso de professora primária que ficou incompleto, mas tirou a carteira profissional de oficial de cabeleireiro feminino e fez uma formação de maquilhadora profissional. Já aqui na Terceira em 1995, abriu o seu próprio negócio, sendo empresária desde então. Neste momento é proprietária de um salão de cabeleireiro – Martín Cabeleireiro’s – em sociedade com o seu irmão.
Nos tempos livres tem um hobbie artístico: pintura a óleo (sobre a qual fez uma formação na Oficina de Angra – Casa do Sal), e gosta praticar desporto como a natação e a patinagem.
Ao vir para cá, a Carina refere que não sentiu muitas dificuldades com a língua, pois os seus avós maternos sempre falaram português em casa, as maiores dificuldades verificaram-se na adaptação à sociedade e a um meio pequeno comparando com a cidade de onde veio: Rosário tem três milhões de habitantes. Na altura residiam poucos imigrantes na Terceira, comparando com a actualidade, mas a Carina sente que foi bem acolhida e cita Jorge Luís Borges (escritor argentino – Prémio Nobel): "Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o Homem compreende, de uma vez por todas quem é".
Sobre a imigração, Carina pensa que devem equacionar-se políticas que assentem no respeito e na dignidade humana e promovam a igualdade entre as pessoas, independentemente do lugar onde nasceram. A este respeito refere “a Europa da vergonha” e as politicas de imigração que tem sido adoptadas pela União Europeia, que não defendem os direitos dos imigrantes, tornando-se estes alvos de preconceito ao serem responsabilizados pela insegurança, pelo desemprego ou até pelo terrorismo.
Os Açores dadas as suas condições geográficas tem sofrido o fenómeno do isolamento, e a imigração ajuda a combatê-lo. Actualmente nos Açores residem pessoas provenientes de 70 países diferentes, o que deve ser valorizado como enriquecedor a nível cultural. A imigração é fundamental no processo de globalização.
Abrir um negócio por conta própria não foi fácil, na altura não haviam apoios, associações, não se falava em micro-crédito. Não existiam os meios tecnológicos que existem hoje em dia, de modo que foi necessário muito esforço e dedicação para ultrapassar diversas dificuldades. Para Carina, ser empresária e empreendedora passa por ter um espírito activo e positivo, para assumir riscos e compromissos, desafiando o mercado e o sistema. É nas crises que devemos recorrer ainda mais à nossa capacidade de trabalho, refere citando uma frase de Simone de Beauvoir: “o trabalho poupa-nos de três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.
Como cabeleireira, nota que as mulheres estão mais exigentes e mais preocupadas com a sua imagem, porque a sociedade assim exige, o trabalho exige uma boa aparência, e se a pessoa se sentir bem, tem mais segurança e uma maior auto-estima que a ajudam a enfrentar as vicissitudes da vida. Carina diz adorar a sua profissão, pois sabe o quão ela é importante para as mulheres.
Em termos de género, verificam-se diferenças entre homens e mulheres transversais à imigração, uma vez que elas sofrem mais assédio sexual e moral no emprego, enfrentam longas jornadas de trabalho ao terem de conciliar vida profissional e familiar, uma vez que ainda hoje, em muitos casos as tarefas não são divididas. Para Carina, as mulheres passaram de um regime de invisibilidade, para um de visibilidade “indiferente”, em diversos aspectos. As mulheres são fundamentais no crescimento da economia dos países, o seu trabalho é gerador de riqueza, de modo que devem existir leis que as protejam e assegurem condições de trabalho justas e igualitárias.
Para finalizar, Carina deixa uma mensagem a todos/as os/as imigrantes: “Não te esqueças de que tu contas, a tua música conta, o teu idioma, a tua comida, os teus sentimentos, a tua cultura… contas TU aqui na sociedade.”

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 8 de Setembro de 2009

AS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

O novo regime do divórcio veio alterar o conceito de “poder paternal”, substituindo o mesmo por “responsabilidades parentais”. Foi o próprio legislador que, na exposição de motivos do Projecto Lei 509/X, veio referir os motivos dessa alteração. Por um lado, mencionava que, ao referir a palavra “poder”, apontava para um sentido de posse dos pais sobre os filhos, quando o ponto essencial deveria estar no dever para com os filhos, pois este é um verdadeiro poder/dever. Por outro, com esta nova designação, pretende-se que os progenitores assimilem que estão perante uma responsabilidade para com os filhos, e que a relação entre os cônjuges é substancialmente diferente da existente entre os progenitores e os filhos.
Mas, mais do que alterar a designação, alterou-se, agora, o regime de exercício das responsabilidades parentais em caso de divórcio ou separação judicial de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação do casamento. Enquanto que na versão anterior à Lei n.º 61/2008, de 31 de Outubro, o poder paternal seria exercido em comum quando fosse obtido o acordo entre os pais, sendo que, não o havendo, o tribunal decidia, através de decisão fundamentada, que o poder paternal fosse exercido pelo progenitor a quem tivesse sido confiado o filho, agora já não é necessário esse acordo. Assim, o legislador vem impor que as responsabilidades relativas às questões de particular interesse para os filhos serão exercidas conjuntamente, apenas se considerando a atribuição das mesmas a um dos progenitores quando o regime regra se mostrar contrário aos interesses do menor. Vemos, pois, que o regime sofreu alterações importantes, que, no entanto, já vinham sendo apontadas pela doutrina como necessárias. De facto, desde há muito que se defendia que o exercício conjunto do então poder paternal era o mais benéfico para os menores, por espelhar o entendimento entre os progenitores quanto a todos os aspectos relevantes das vidas dos mesmos.
O problema surge quando não há esse entendimento entre os pais, quando não conseguem acordar qual a melhor decisão a tomar. E então deparamo-nos com um problema: como vão ser exercidas as responsabilidades parentais? Agora, em princípio, serão exercidas conjuntamente, como referimos. Mas imaginemos um caso, hipotético, em que os cônjuges pretendem divorciar-se por mútuo consentimento, mas em que comprovadamente um dos progenitores não age de acordo com os interesses do menor. Anteriormente, poderia ser atribuído o poder paternal apenas àquele progenitor que vela pelos reais interesses do menor; agora terão de requerer ao tribunal que decida se, no caso concreto, poderá apenas um dos progenitores exercer as responsabilidades parentais. O que poderia ser um processo bastante simplificado e rápido, que ocorreria perante a Conservatória de Registo Civil (tendo em atenção que o acordo sobre a regulação do exercício das responsabilidades parentais teria de ser homologado pelo Ministério Público), torna-se um processo judicial que poderá ser mais ou menos moroso, mas com custos mais elevados.
Com esta consideração não se pretende retirar o valor da alteração legislativa, que entendemos ser importante por promover, ou pelo menos tentar, um maior entendimento entre os progenitores, o que é primordial para os interesses dos menores. Pretendemos, apenas, visualizar o regime agora implementado por todos os ângulos possíveis, incluindo aqueles em que a realidade não se adequa à legislação publicada.

Bárbara Guimarães

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 8 de Setembro de 2009

Noites de Igualdade


Em Setembro a UMAR Açores pretende retomar as suas Noites de Igualdade. Esta, sob o tema “A Participação Feminina nos Desportos Motorizados”, contará com a presença das pilotos Elisabete Jacinto, Carla Rosado e Diana Coelho e será moderada pelo jornalista Miguel de Sousa Azevedo. A iniciativa é aberta ao público em geral e terá lugar na Delegação da Terceira da UMAR Açores – Edifício da Recreio dos Artistas, Rua da Rosa s/n, 1º andar – no dia 17 de Setembro pelas 20h30.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 8 de Setembro de 2009

Destaque do Mês de Agosto de 2009

D. Zita Lima

A D. Zita Lima nasceu em Lisboa, no Bairro de Alfama, em 1930. Em termos académicos, fez o Curso Complementar do Comércio, e trabalhou como secretária numa instituição. Aos 24 anos casou-se com o médico Mário Lima, e veio para a Ilha Terceira, uma vez que o seu marido era natural de cá. Fez parte da Liga de Acção Católica Feminina (LACFE) e ajudou o marido no consultório até terem os seus quatro filhos. Entretanto também deu aulas de Culinária na Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo e leccionou parte de um curso de Cozinha do PROFIJ na Escola Secundária Vitorino Nemésio da Praia da Vitória.
Depois ligou-se a um grande sonho do seu marido, que juntamente com o Dr. Cândido Pamplona Forjaz, sempre quiseram fazer algo em prol da luta contra o cancro nos Açores. Esse projecto começou ainda na sua casa onde se fizeram as primeiras reuniões, depois a Liga Contra o Cancro Nacional comprou o edifício onde actualmente está instalado o Centro de Oncologia dos Açores (C.O.A), e nascia aí o Núcleo Regional dos Açores da Liga Portuguesa Contra o Cancro (N.R.A.L.P.C.C.), na década de 60. Depois da activação do Núcleo, o sonho foi mais além e o objectivo era construir um centro onde se realizassem consultas de rastreio, quimioterapia, citologia, mamografias… Na concretização deste projecto, a D. Zita Lima teve uma participação bastante activa, fazendo a ligação com Lisboa, procurando as casas de materiais médicos e contactando os médicos de várias especialidades para saber o que era necessário para instalar esse centro: o C.O.A., que depois se tornou pertença do Governo Regional.
O primeiro presidente do N.R.A.L.P.C.C. foi o Dr. Cândido Forjaz e a D. Zita esteve sempre envolvida no trabalho do Núcleo tornando-se mais tarde sua presidente (há cerca de 12 anos). Trata-se de um cargo que exige muita disponibilidade e requer contactos constantes com o continente com vista ao crescimento do Núcleo. Este tem delegadas em todas as ilhas e delegações em S. Miguel e no Faial.
Entretanto foi-se interessando pela culinária, área que sempre gostou e o marido também apreciava muito. Fez um programa na RTP Açores sobre Culinária Regional, e tem sido questionada pelas pessoas sobre a possibilidade de realizar um novo programa. Entretanto recebeu um convite para publicar um livro sobre cozinha regional, em 2004, intitulado “Cozinha Açoriana”, que pelo interesse que despertou também está traduzido em Inglês. Começou a dar aulas de culinária em sua casa, fazendo cursos de 10 aulas com 5 semanas de duração. Tem alunas e alunos, porque os homens também se mostram muito interessados nesta área, havendo alguns que chegam a fazer vários cursos. O próximo curso de culinária vai decorrer em fins de Setembro e princípios de Outubro.
Gosta muito do trabalho na Liga, cujas actividades principais são o apoio ao doente oncológico e a prevenção do cancro. O apoio é dado ao paciente carenciado e não carenciado, porque próteses e cabeleiras são necessidades de toda a gente que vive esta doença. Para os doentes carenciados há ainda apoio a nível de alimentos e medicação. Outra finalidade é alertar a população para a realidade do cancro: as formas de se defender, de se prevenir, a maneira de detectar sintomas “suspeitos” e a necessidade de recorrer ao médico o mais rapidamente possível, porque quando detectado a tempo, aumentam as probabilidades de sobrevivência.
Também é objectivo do núcleo promover a investigação, apoiar técnicos de saúde na ida a congressos, mas as verbas são muito limitadas, uma vez que vêm principalmente de um peditório anual feito nos últimos dias de Outubro e primeiros de Novembro e das quotas pagas pelos sócios (15€ anuais). Fazem eventos como a Gala de Beneficência a favor do N.R.A.L.P.C.C. intitulada “Uma noite pela Vida”, com o apoio da estilista Daniela Lopes. Já houve uma a 29 de Novembro de 2008, no Clube Musical Angrense e a 2ª terá lugar no dia 5 de Setembro, no Auditório do Ramo Grande na Praia da Vitória.
Alguns cancros são específicos do género, como o cancro da próstata nos homens e o cancro da mama nas mulheres. Assim surgiu o Movimento “Vencer e Viver” – mulheres que foram operadas, mastectomizadas (cirurgia em que o seio é retirado) apoiam voluntariamente outras mulheres que vão operar ou que também já operaram a mama. O Movimento tem conhecimento que determinada mulher vai ser operada através da enfermeira do serviço de cirurgia que entra em contacto com o N.R.A.L.P.C.C.. Aí pergunta-se à utente se está interessada em ser contactada antes ou depois da operação e ela é procurada pela voluntária, que sendo uma pessoa que já passou pelo mesmo processo, pode falar e apoiar com um verdadeiro “conhecimento de causa”. Uma vez que se trata de uma cirurgia muito delicada, com grandes implicações a nível da auto-imagem e da auto-estima, por interferir com a identidade feminina, já existem muitas coisas adaptadas: soutiens, lingerie, fatos de banho, saídas de praia, camisas de dormir, para que a mulher se possa sentir bem nesta nova condição.
Outra doença muito prevalente na Região é o cancro do pulmão, que antes ocorria principalmente no sexo masculino, e agora tem aumentado também nas mulheres. Em 90% dos casos surge associado aos hábitos tabágicos, em fumadores/as activos/as e passivos/as.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 5 de Agosto de 2009

A Educação Afectivo-Sexual nas Escolas

A Sexualidade e a Afectividade são componentes essenciais da intimidade faz parte da vida, do corpo, das relações entre as pessoas, do crescimento pessoal e da vida em sociedade.
A Sexualidade é uma fonte de prazer, de comunicação e de realização pessoal, portanto promover a saúde sexual dos indivíduos é um importante contributo para a sua formação pessoal e social.
O início desta formação começa desde que se nasce, no seio da família, e continua com a entrada no meio escolar. A Educação Sexual sendo uma componente da educação a escola tem um papel importante a cumprir na formação das crianças e jovens e na articulação desta mesma formação com as famílias.
Sabemos que a educação sexual informal e espontânea que, existe sempre e em toda a parte, não é, muitas vezes, suficiente, esclarecedora e eficaz. Mas sabe-se também que, a educação sexual positiva e eficaz ajuda a crescer e a ter uma vivência responsável e saudável da sexualidade, ajuda a prevenir os riscos ou problemas de saúde associados à vivência da sexualidade, como as gravidezes não desejadas e as infecções sexualmente transmissíveis, resultando numa atitude preventiva face à doença e numa atitude promotora do bem estar e da saúde.
A educação sexual nas escolas é uma necessidade e um direito das crianças, jovens e das famílias, previsto na legislação portuguesa desde 1984.
Actualmente, a organização curricular dos ensino básico e secundário deve contemplar obrigatoriamente a abordagem da promoção da saúde sexual e da sexualidade humana pela inclusão, nos planos de estudos, de conhecimentos científicos sobre as diferentes componentes anatómicas do corpo humano, dos mecanismos básicos da reprodução humana, compreendendo os elementos essenciais acerca da concepção, da gravidez e do parto, da genética e da sexualidade humana, e claro, adequados aos vários níveis de compreensão das crianças e jovens.
Para além da abordagem de temas da sexualidade humana nos planos de estudos têm-se criado e desenvolvimento programas de educação sexual nas escolas. Estes programas têm sido desenvolvidos no sentido de; dar formação aos professores, educadores e auxiliares para serem capazes de agir de forma adequada e correcta perante dúvidas relativas à sexualidade das crianças e jovens; promover e dar apoio às famílias na educação dos seus filhos, valorizando o seu envolvimento em todas as actividades programadas, impedindo que se criem mal entendidos ou receios acerca da finalidade das mesmas; proporcionar a articulação entre as escolas e as famílias com os serviços de saúde, nomeadamente os Centros de Saúde pela promoção das consultas infanto-juvenil.
São finalidades também destes programas de educação sexual, e atrevo-me a dizer que talvez as mais importantes, desenvolverem nas crianças e jovens a sua autonomia e comunicação, a sua liberdade de escolha, o direito à informação e uso de vocabulário adequado, a adopção de comportamentos e decisões responsáveis nos relacionamentos e na recusa de comportamentos não desejados em situações de injustiça, abuso, perigo ou que violem a dignidade e os seus direitos; o reconhecimento da importância das relações afectivas na família; a valorização das relações de cooperação e de inter – ajuda; o respeito pela diferença e o saber procurar ajuda e apoio, quando necessário.
É importante referir também que, a saúde sexual pressupõe uma abordagem positiva à sexualidade humana, promove uma vivência mais gratificante, mais autónoma, mais informada, mais responsável e uma maior qualidade de vida e das relações pessoais. Não apenas o aconselhamento e os cuidados relativos à reprodução ou prevenção de problemas.

Susana Loureiro
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica
Docente na Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 5 de Agosto de 2009

Acções de Sensibilização na Escola Profissional da Praia da Vitória

A UMAR Açores tem vindo ao longo do ano a realizar diversas acções de sensibilização para diferentes públicos e em diferentes contextos. Assim, em parceria com a Escola Profissional da Praia da Vitória, realizaram-se ao longo dos meses de Março e Maio, acções de sensibilização sobre Igualdade de Género e de Oportunidades entre Mulheres e Homens (no antigo Lar de Santa Maria Goretti - Programa REACTIVAR) aos Cursos de Cozinha, de Pastelaria/Panificação, de Electromecânico de Electrodomésticos e de Serviço de Andares em Hotelaria. Ainda no âmbito das actividades dos dias da Europa e da Cidadania (23 e 24 de Abril), efectuaram-se sessões orientadas para formando/as do PROFIJ sobre Violência nas Relações Afectivas. O principal objectivo deste trabalho é sensibilizar a comunidade para a necessidade de se alterarem comportamentos de forma a privilegiar a igualdade entre os géneros e consequentemente prevenir a violência de género nas suas diferentes formas.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 5 de Agosto de 2009

AGRADECIMENTO

A UMAR Açores e Inês Furtado (Néné) vêem desta forma agradecer a disponibilidade demonstrada por todas as pessoas que participaram, no passado dia 30 de Maio, no jantar de solidariedade com o objectivo de apoiar o transporte de bens para Cabo Verde, bem como às empresas que forneceram bebidas e géneros alimentares gratuitamente para a confecção do referido jantar. Queremos ainda deixar um agradecimento especial à empresa JP Som, bem como às bandas Sons Acústicos e Sete da Vida Airada pelos bons momentos proporcionados. Obrigado e bem hajam.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 27 de Junho de 2009

Acção de Formação Cozinhando a Vida

Decorreu de 11 de Maio a 19 de Junho uma acção de formação intitulada “Cozinhando a Vida” na qual a UMAR Açores contribuiu, através do módulo Papéis sociais de género na esfera doméstica ajudando assim a desmistificar preconceitos associados aos papéis socialmente atribuídos a homens e mulheres, nomeadamente no espaço doméstico e familiar. Esta iniciativa orientada para utentes em fase final do seu processo de autonomização de diferentes instituições, foi desenvolvida no âmbito do trabalho da RAICES - Rede de Apoio Integrado ao Cidadão em Exclusão Social coordenada pela Instituto de Acção Social e teve o apoio da Direcção Regional das Comunidades, Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória e Casa da Saúde do Espírito Santo. A iniciativa decorreu nas instalações da Cozinha Económica Angrense com a supervisão da técnica daquela instituição e teve o seu encerramento no passado dia 19 de Junho com a realização de um jantar confeccionado pelo/as formando/as onde estiveram presentes os familiares deste/as, o/as formador/as, responsáveis pelas instituições da RAICES e convidado/as.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 27 de Junho de 2009

“As Lobas Corajosas”

Grupo Terapêutico com Mulheres Vítimas de Violência Conjugal


Ao longo dos meses de Fevereiro a Abril, realizou-se pela primeira vez na UMAR Açores um grupo terapêutico com mulheres vítimas de violência conjugal. Este programa surgiu da necessidade de algumas utentes, acompanhadas no serviço de psicologia da UMAR Açores – Delegação de Angra de Heroísmo, em partilhar a sua história com outras mulheres em contextos de vida semelhantes, com o intuito reforçar a sua narrativa, muitas vezes desvalorizada e banida pela sociedade.
O principal objectivo do programa de intervenção em grupo foi fornecer às mulheres vítimas de violência conjugal um novo significado à sua história de modo a que as próprias a integrassem satisfatoriamente no seu reportório de vida e reconhecessem o seu valor enquanto mulheres.
O programa foi projectado para conter 8 sessões, nas quais se integraram várias dinâmicas em grupo (e.g., discussões grupais, visualização de filmes, leitura de textos, etc.), articuladas com algumas estratégias de treino de competências (e.g., assertividade), introduzindo também algumas técnicas cognitivo-comportamentais (e.g., debate de crenças, preenchimento de tabelas, etc.).
O grupo terapêutico foi constituído por 5 elementos do sexo feminino, com média de idades nos 42 anos. Todas as participantes estavam a ser acompanhadas em terapia individual, sendo a terapia em grupo um complemento ao seu processo terapêutico. As sessões aconteceram todas as terças-feiras (desde finais de Fevereiro a meados de Abril), pelas 17h30, na sede da UMAR Açores. Em média as sessões tinham a duração de 1h30m. As sessões foram mediadas pelas psicólogas Letícia Leal (estagiária em Psicologia da Justiça – terapia em grupo desenvolvida no âmbito do estágio académico da aluna) e Dra. Rita Silva (psicóloga residente).
Este programa permitiu verificar os benefícios que estes grupos de ajuda oferecem a mulheres vítimas, bem como os seus contributos para a melhoria do bem-estar emocional das utentes. Igualmente, enfatizou a importância que a troca de experiências sobre esta problemática revela na diminuição da ideia de caso único e que os diferentes pontos de vista e soluções apresentadas são muitas vezes mais valorizados ditos por pessoas com histórias de vida análogas. Relativamente, às narrativas em si, constatou-se uma evolução nos discursos, desde as sessões iniciais até às últimas, uma vez que, no início os discursos envolviam muito o sentimento de culpa, a frustração e raiva pelos anos perdidos, tendo mais para o final do processo, assumido uma postura cada vez mais assertiva, através da libertação do papel de vítimas. Este processo, também, contribuiu para a diminuição do isolamento das participantes, para a sua valorização pessoal, reconhecimento da sua coragem e validação das suas mudanças pessoais, através duma identidade colectiva que ficou selada neste grupo de “lobas corajosas”.
O último objectivo do processo terapêutico em grupo era que as participantes fossem capazes de “reescrever” as suas histórias focalizando-se nos aspectos que as fizeram tornar as mulheres que são na actualidade, tendo no final sido escrito uma pequena narrativa que englobasse as suas árduas caminhadas:
“Todas as manhãs acordavam com novas esperanças, o desejo de que o dia anterior seria esquecido e que hoje…sim, hoje tudo iria melhorar! Infelizmente, foram precisos anos para perceberem que o príncipe encantado, não passava de um “lobo disfarçado de cordeiro”, e o desejo do companheiro mudar e compreendê-las, foi canalizado para o desejo de recuperar os anos perdidos, uma vez que, de dia para dia, o ar parecia ficar mais rarefeito e as forças para continuar começavam a escassear. Finalmente, passados anos de tristeza, dor, medo, angústia, desespero, reflectiram que por muito que quisessem salvar o casamento, ele não se iria conservar só com um dos lados a lutar, optando que entre ficar a “ver-se morrer” ou a “salvar-se”, por muitos custos que antecipassem da segunda opção, nada valia mais do que mudar, fossem quais fossem as consequências. Hoje, olham para trás e arrependem-se de ter adiado tanto a situação, mas agradecem o facto de, mesmo depois de muitos anos, agora poderem dizer: “agora tenho paz… hoje sou feliz”.
No final, distribuiu-se um diploma de participação e solicitou-se que as utentes construíssem uma pequena lembrança (e.g., placa com mensagem para aplicar no frigorífico), onde escreveriam uma frase positiva sobre si, para se recordarem que não são só aquelas mulheres que estiveram num grupo para vítimas, que não são só mães, amigas, ou companheiras…lembrar que acima de tudo são MULHERES e que tem características positivas que não podem esquecer.
Em conclusão, o programa em grupo teve muita receptividade das participantes que partilharam no termo da terapia: “sentimo-nos bem, o sentimento de culpa diminui muito quando sabemos que não fomos as únicas”. Este feedback dá-nos o mote para a realização de novos grupos de ajuda para mulheres vítimas de violência conjugal no futuro.

Letícia Leal

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 27 de Junho de 2009

Destaque do Mês de Maio de 2009

D. Fátima Albino

Maria de Fátima Soares Fernandes Rocha Ferreira nasceu a 18 de Agosto de 1953 em Angra do Heroísmo e desde cedo se viu envolvida num ambiente taurino onde aprendeu a gostar de gado bravo, confessando-nos mesmo que sempre “adorou andar no meio dos toiros…”.
Com 18 anos de idade, assume provisoriamente, em conjunto com um primo, a gestão da exploração agrícola e ganadaria do seu pai temporariamente ausente nos EUA. Num meio predominantemente masculino desempenha bem as suas funções sendo das primeiras mulheres a conduzir veículos todo o terreno na ilha Terceira.
Ao contrário da restante família que não valorizava muito a instrução escolar, a mãe sempre a incentivou a estudar. Assim, em 1974 finaliza o antigo 7º ano do Liceu passando a desempenhar funções como professora provisória, primeiro em Angra do Heroísmo até 1977 e mais tarde na Praia da Vitória até 1979. Na mesma altura frequenta em simultâneo o Magistério Primário e o Curso para estudantes trabalhadores denominado Técnicos de Produção Animal na Universidade dos Açores, bem como um curso de secretariado onde conhece o seu actual marido. Em Abril de 1979 ingressa nos quadros do Banco de Portugal em Ponta Delgada regressando à sua ilha natal um ano mais tarde como funcionária da nova agência do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, que abre em Maio de 1980, em Angra do Heroísmo. Em 1984 regressa ao Banco de Portugal (agência de Angra do Heroísmo) onde desempenha funções até 1993.
É a partir de 1992 e atendendo ao agravamento do estado de saúde de seu pai, que passa a gerir, em conjunto com o marido, a Ganadaria da Casa Agrícola José Albino Fernandes.
Casada desde 18 de Julho de 1981 e mãe de duas filhas, actualmente com 25 e 26 anos de idade, tem conciliado com esforço, ao longo do seu percurso de vida, as suas actividades profissionais e formação académica com as suas responsabilidades familiares.
Em 1996 conclui o Bacharelato do Curso de Ensino Básico - 1º Ciclo. No entanto, fica ainda ligada à gestão da sua ganadaria até ao ano 2000. Após esse período inicia a sua carreira como professora do 1º Ciclo, passando pelas escolas da Carreirinha Conceição e São Mateus, regressando à EB1/JI da Carreirinha onde actualmente exerce funções como Professora / Coordenadora.
Foi ainda Presidente da Direcção da Associação Regional de Criadores da Tourada à Corda de 2000 a 2006, procurando incentivar a melhoria das condições dos animais no mato e promovendo o toiro e a tourada à corda através da organização de eventos no exterior da Ilha Terceira.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 28 de Maio de 2009

Jantar de Solidariedade no Restaurante “A Africana”

No seguimento da entrevista realizada na última edição de Igualdade XXI, a Inês Pereira Furtado – Nené, a UMAR Açores, Delegação da Terceira, decidiu apoiar na angariação de fundos para o envio de contentores com vários tipos de bens para Cabo Verde.
Sendo a UMAR uma Associação que luta pelos direitos das mulheres e pela sua afirmação na sociedade, e tratando-se a Nené de uma mulher que tanto tem feito para ajudar os/as seus/suas conterrâneos/as, com acções de extremo mérito social, faz todo o sentido conjugarmos esforços no alcance deste objectivo. A população Terceirense mostrou-se bastante generosa ao fornecer bens que perfizeram 4 contentores, vamos agora tentar concluir este ciclo de solidariedade para que os donativos alcancem o seu destino. Para isso é necessária a colaboração de todos/as!
Deste modo, está a ser organizado um jantar que terá lugar no Restaurante “A Africana”, no dia 30 deste mês pelas 20h00. O jantar é composto por um prato de peixe, um de carne, uma bebida e sobremesa, pelo simbólico valor de 15€. Inclui também a actuação da Banda “Sons Acústicos” pelas 22h00. Os bilhetes estão à venda na UMAR, sita no Edifício da Recreio dos Artistas, e no Restaurante “A Africana”, na feira de exposições agrícolas (Vinha Brava). Os lucros vão reverter a favor do transporte dos contentores para Cabo Verde.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 28 de Maio de 2009

Programa de Educação Afectivo-Sexual

EBI de Angra do Heroísmo


EBI de Angra do Heroísmo


A UMAR Açores tem investido cada vez mais na promoção da Igualdade e na prevenção da Violência de Género (masculino e feminino), sendo também do âmbito desta associação o trabalho a nível dos Direitos Sexuais e Reprodutivos. Desta forma foi criado o Programa de Educação Afectivo Sexual, direccionado para as crianças do 3º e 4º ano de escolaridade. No ano lectivo transacto este programa decorreu nas Escolas Básicas do Agrupamento Tomás de Borba e neste ano foi desenvolvido junto das turmas do Programa Oportunidades na Escola Básica Integrada de Angra. Ainda antes do final do ano lectivo, ocorrerá também na Escola Básica da Carreirinha.
O programa é composto por uma sessão direccionada a pais e professores/as e 4 sessões para os/as alunos/as, todas elas interligadas com o objectivo de promover a expressão adequada de sentimentos e pensamentos, a igualdade e o respeito mútuo entre géneros, o conhecimento básico da sexualidade humana e algumas noções de planeamento familiar, responsabilidade parental, e prevenção do abuso sexual de crianças. Este projecto tem sido desenvolvido pelos/as técnicos/as da UMAR Açores, Delegação da Terceira, com a colaboração de uma enfermeira docente na Escola Superior de Enfermagem.
É intenção da UMAR Açores continuar a desenvolver este projecto no próximo ano lectivo, de modo que as Escolas Básicas interessadas poderão entrar em contacto connosco.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 28 de Maio de 2009

Destaque do Mês de Abril de 2009

D. Inês Furtado (Néné)


Inês Pereira Furtado (Néné) nasceu em Cabo Verde a 8 de Janeiro de 1959. Com 17 anos de idade veio para Lisboa à procura de novas oportunidades de trabalho. A 26 de Maio de 1980 muda-se para a Ilha Terceira onde começa a trabalhar, inicialmente na confecção de refeições e lavagem de roupa aos trabalhadores da construção civil e mais tarde no apoio e cuidados a idoso/as, bem como em limpezas domésticas.
Mãe de cinco filho/as, quatro naturais da Ilha Terceira, sempre lutou pela sua independência económica, criando em 1991 a “Tasca Africana”, viatura ambulante de venda de comes e bebes que passa a contar, em 1994, com um espaço físico em Angra do Heroísmo com a mesma denominação. Mais tarde, em 2001, o seu restaurante passa para o parque de exposições agrícolas na Vinha Brava em Angra do Heroísmo, onde funciona até hoje.
Desde sempre ajudou imigrantes oriundos/as essencialmente de Cabo Verde, Angola, Brasil, Ucrânia e Índia, dando apoio em situações pontuais e sempre que solicitada, ajudando-os/as na sua integração e adaptação à nossa ilha. É com este espírito solidário que em 2003 envia o primeiro de 12 contentores para a sua terra natal com todo o tipo de produtos em falta, desde livros, cadernos, brinquedos e roupa a materiais de construção civil, preparando-se entretanto para enviar mais quatro contentores com o mesmo objectivo, o de ajudar os que mais precisam.
Em 2006, atendendo ao apoio prestado aos seus conterrâneos bem como à divulgação da cultura e gastronomia cabo-verdianas nos Açores, é nomeada Representante de Cabo Verde na nossa Região pelo Primeiro-ministro de Cabo Verde José Maria Neves. Desde 28 de Maio de 2008 que é também Coordenadora da AIPA (Associação dos Imigrantes nos Açores) para a Ilha Terceira.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 18 de Abril de 2009

Dia Internacional da Mulher - 8 de Março

Inauguração da Exposição na Carmina Galeria de Arte

Concerto pelas alunas do ensino artístico da escola Basica e Secundária Tomás de Borba

Mesa redonda / debate


O Dia Internacional da Mulher foi celebrado pela UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres, de várias formas, todas elas com o objectivo de assinalar este dia e não deixar esquecer o principal motivo que lhe dá razão de ser: a defesa pela igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres.
Em S. Miguel, no Centro Comercial SOLMAR, a Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA) e a UMAR Açores, fizeram uma Conversa a8, com a participação de 8 mulheres oriundas de diferentes países e a pré-apresentação do livro digital “Viajante, tu contas”, onde o grupo de mulheres do projecto Migração, Interculturalidade e Género “Tu existes, tu contas”, contam as suas histórias e receitas típicas dos seus países de origem.
No Faial, a UMAR Açores teve uma participação especial no “Espaço Mulher”, onde foram distribuídas flores feitas pelas utentes da Casa-Abrigo, e foi passado às visitantes um questionário adaptado de auto-conceito, que está no momento a ser analisado em termos estatísticos.
Na Terceira, a UMAR Açores em parceria com a Carmina Galeria de Arte Contemporânea, organizaram uma exposição colectiva de três artistas com raízes açorianas – Cátia Guimarães, Maria Ana Simões e Phillipa Cardoso – que com pintura e escultura deram vida ao tema “Terra-Mulher”. A arte no feminino foi também celebrada num momento musical proporcionado pelas alunas do ensino artístico da E.B.S. Tomás de Borba. Para arrematar estas celebrações, decorreu uma mesa-redonda moderada pela jornalista da RTP-Açores - Marta Silva, com a participação das Directoras Regionais da Igualdade de Oportunidades – Natércia Gaspar, Solidariedade e Segurança Social – Isabel Berbereia e Educação – Fabíola Cardoso. As Directoras Regionais da Saúde – Sofia Duarte e Cultura – Gabriela Canavilhas, não puderam estar presentes. A assistência participou de forma entusiástica, colaborando para o debate da situação das mulheres no que respeita à igualdade de direitos e deveres, em várias áreas.
Também de forma a assinalar o dia, foi feita uma acção de sensibilização no Estabelecimento Prisional de Angra do Heroísmo (E.P.A.H.) para detidos e as suas esposas/ companheiras.

Sabia que?...
No dia 8 de Março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e reivindicaram melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do local de trabalho. Esta manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num acto totalmente desumano.
Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de Março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem às mulheres que morreram na fábrica em 1857. No ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (O.N.U.).

Objectivo da Data
Ao ser criada esta data, não se pretendia apenas comemorar. Na maioria dos países realizam-se conferências, debates e reuniões cujo objectivo é discutir o papel da mulher na sociedade actual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito e a desvalorização da mulher. Mesmo com todos os avanços, elas ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. Muito foi conseguido, mas ainda temos um longo caminho a percorrer na conquista da igualdade.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 18 de Abril de 2009

Campanha de Prevenção da Violência no Namoro

Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade - Dia dos Namorado/as

Os estudos internacionais e nacionais vieram revelar números alarmantes relativamente à violência nas relações íntimas juvenis, nomeadamente no namoro. Estes estudos demonstram uma oscilação nos seus resultados, indicando uma prevalência que varia entre os 13% e os 50% de violência psicológica relatada pelos jovens, 10% a 40% de abuso físico e 3% a 10% de violência sexual (Foshee, 1996; Machado, Matos e Caridade, 2006). Estes resultados inquietantes, traduzem-se para a comunidade científica na necessidade de desenvolver programas de prevenção da violência no namoro para jovens em idade escolar, mas também despertar a população em geral para esta problemática.
Assim, no dia 13 de Fevereiro de 2009 (véspera do dia dos namorados), a UMAR Açores, em colaboração com o programa Afectivo-Sexual “(Com)Sentido” da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade (E.S.J.E.A.), desenvolveu uma campanha de sensibilização para a eliminação da violência no namoro. Para tal, foram elaborados inúmeros materiais (i.e., cartazes, vídeos, campanhas de prevenção e panfletos) com o intuito de alertar os jovens para esta problemática, bem como dar-lhes a conhecer os recursos de ajuda disponíveis. Também foram colados no chão da escola vários corações com mensagens e informações alusivas à violência no namoro (e.g., “1 em cada 4 namoros portugueses tem violência”).
De igual modo, desenvolveu-se um conjunto de acções de sensibilização em sala de aula, direccionadas a várias turmas do 7º ao 9º ano de escolaridade, divididas em três temas. A primeira sessão dava por tema a “A Igualdade de Género e desmistificação dos Papéis Sociais de Género” promovida pelo Dr. Agostinho Pinheiro (Sociólogo da UMAR Açores); a segunda tinha o mote da “Prevenção da Violência entre Pares - Bullying” (elaborada pela psicóloga – Dr.ª Rita Silva), em seguimento dos resultados obtidos num questionário sobre violência, desenvolvido pelas técnicas da UMAR Açores (Dr.ª Rita Silva e Dr.ª Marta Martins); e a terceira sessão, incidia na “Prevenção da Violência nas Relações Afectivas Juvenis”, onde foram fornecidas informações relativas à prevalência de violência nas relações de namoro, relações afectivas ocasionais (i.e., curtes) e relações homossexuais, aludindo para a prevenção da violência neste tipo de relações e a desconstrução de mitos associados à violência, desenvolvida pela Dr.ª Letícia Leal (estagiária em Psicologia da Justiça da Universidade do Minho).
Finalmente, importa salientar o interesse de toda a comunidade escolar, desde alunos, professores e auxiliares de acção educativa, bem como da população em geral, na promoção das iniciativas propostas pela UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres.

Letícia Leal

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 18 de Abril de 2009

Destaque do Mês de Março de 2009

D. Glória Brasil

Maria da Glória Nascimento Leonardo Brasil nasceu a 23 de Agosto de 1960, em S. Jorge. Com três anos, veio com a sua família viver para a Ilha Terceira, onde ainda hoje em dia reside e trabalha.
Enquanto as duas irmãs mais velhas trabalhavam, a Sr.ª Glória ajudava a mãe a cuidar da casa e dos irmãos. Entretanto, apoiava vizinhos que necessitavam e este espírito familiar e solidário ainda se mantém nos dias de hoje, uma vez que se trata de uma pessoa com uma vivência comunitária bastante activa.
A Sr.ª Glória entretanto casou, criou os seus filhos e sentiu que algo estava em falta, pois gostava de ter estudado mais e de ter tido um emprego. Foi então que viu uma oportunidade de se desenvolver pessoal e profissionalmente, no curso promovido pela UMAR dentro do projecto “Mudança de Maré”, um curso sócio-profissional dirigido às mulheres das comunidades piscatórias, nas ilhas Terceira e S. Miguel.
Neste curso, surgiu a possibilidade da realização de um estágio na Escola Superior de Enfermagem, onde ainda hoje em dia a Sr.ª Glória trabalha, como Auxiliar Administrativa. E neste curso nasceu, também, a ideia que veio a concretizar-se na Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da Ilha Terceira (AMPA-IT), da qual a D. Glória é presidente. Uma associação que surgiu da necessidade de valorizar e divulgar o papel fundamental que a mulher tem em todas as actividades relacionadas com a pesca.
Além de ajudar mulheres e homens que trabalham na pesca, a AMPA – IT presta diversos serviços à comunidade: médico de família, partilha de medicamentos, descontos numa óptica e numa clínica dentária, tem uma loja de artesanato e promove formações em diversas áreas (reciclagem, socorrismo, pintura, informática, etc.)
Recentemente, a UMAR Açores lançou o livro “Estamos cá. Existimos. As mulheres na pesca nos Açores.”, que concretiza o projecto “As mulheres na pesca nos Açores: projecto de investigação e acção participada”.

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 6 de Março de 2009

Programa “Ajuda na Procura de Emprego – Consciencialização de Competências”

A D. Ana Alves com a nossa Técnica Letícia Leal


A D. Ana Rocha Alves é uma das nossas utentes do Programa “Ajuda na Procura de Emprego – Consciencialização de Competências”, promovido pela UMAR Açores - Delegação da Ilha Terceira. Com 30 anos de idade e mais de 10 anos de experiência profissional na área da restauração e serviços, deparou-se em Setembro de 2008 com a difícil situação de desempregada. Recorreu aos nossos serviços para procurar ajuda e entretanto já se encontra a trabalhar. Entrevistamo-la para aferir a sua opinião sobre o Programa.

Como teve conhecimento do Programa?
Foi através de um anúncio afixado na Agência para a Qualificação Emprego e Trabalho de Angra do Heroísmo. Quando estamos desempregadas todas as ajudas são poucas e decidi experimentar pois não tinha nada a perder.

O que foi mais importante nesse processo de acompanhamento?
Para além da informação recebida e dos exemplos práticos na elaboração de Currículos profissionais, requerimentos e cartas de candidatura espontânea, foi essencialmente o incentivo de que precisava para procurar trabalho. Esse apoio ajudou-me a não desmotivar.

Como perspectiva o seu futuro em termos profissionais?
Se fosse possível conciliar com o trabalho, gostava de ter oportunidade de voltar a estudar para melhorar a minha habilitação académica. A nível profissional gostava de me envolver por conta própria num serviço de prestação de cuidados a crianças ou idosos, contudo para isso seria necessário algum investimento o que actualmente não é viável. Entretanto, e à semelhança de experiências anteriores, gostava de ter oportunidade de voltar a explorar um bar numa zona balnear da ilha Terceira.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 6 de Março de 2009

Prevenção da Violência na Intimidade



A UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres tem “aberto portas” para outros campos que vão além da intervenção com mulheres vítimas de violência (prevenção terciária). Deste modo, a UMAR Açores considera relevante alargar fronteiras para a população em geral e sensibilizar a comunidade para a igualdade entre os géneros (feminino e masculino), bem como prevenir a violência noutros grupos etários (prevenção primária e secundária).
Assim sendo, a UMAR Açores desenvolveu, através do convite da Professora Maria Estefânia Ribeiro (ESJEA), sessões de sensibilização integradas na disciplina de “Cidadania e Direitos do Homem”, com o intuito de promover a igualdade de género e prevenir a violência na intimidade, direccionadas a jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, discentes nos cursos profissionais (PROFIJ). As sessões decorreram ao longo do mês de Janeiro e foram divididas em duas (com duração de 90 minutos cada). Numa primeira sessão, o sociólogo da UMAR Açores (Dr. Agostinho Pinheiro) promoveu o debate em torno do conceito de género, bem como dos papéis sociais e estereótipos associados a cada sexo, com o objectivo último de desmistificar os mitos associados aos géneros. Na segunda sessão, desenvolvida pelas psicólogas da associação (Dra. Rita Silva e Dra. Letícia Leal), procurou-se conhecer a visão dos jovens sobre a violência e a sua aceitação e/ou negação no contexto dos relacionamentos íntimos. De igual modo, pretendeu-se alargar os conhecimentos sobre esta problemática, dando ênfase aos tipos de violência e às suas dinâmicas (e.g., ciclo da violência). Finalmente, salientou-se as estatísticas alarmantes e crescentes da violência no namoro, e o facto desta poder ser um preditor da violência conjugal.

Letícia Leal

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 6 de Março de 2009